quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Por que Deus não cura amputados?
Resposta: Algumas pessoas usam esta pergunta na tentative de “desaprovar’ a existência de Deus. De fato, existe um website popular e anti-cristão dedicado ao argumento “por que Deus não cura amputados?”: http://www.whywontgodhealamputees.com. Se Deus é todo-poderosos e se Jesus prometeu fazer todas as coisas que pedimos, então por que Deus nunca cura amputados quando nós oramos por eles? Por que Deus cura vítimas de câncer e diabetes, por exemplo, mas ainda assim ele não faz com que o membro amputado seja regenerado? O fato que um amputado permanece amputado é “prova” para alguns de que Deus não existe, que a oração é inútil e que as tão-chamadas curas são coincidência e que a religião é um mito.
O argumento acima, geralmente, é apresentado de uma maneira pensativa, bem fundamentada com uma pitada liberal das Escrituras, para fazê-lo parecer mais legítimo. No entanto, é um argumento baseado em uma visão errada de Deus e uma deturpação das Escrituras. A linha de raciocínio empregada no argumento “por que Deus não cura amputados” supõe, pelo menos, sete premissas falsas:
Premissa 1: Deus nunca curou um amputado. Quem disse que na história do mundo, Deus nunca causou a regeneração de um membro? Dizer “eu não tenho evidência empírica de que membros possam ser regenerados; portanto, nenhum amputado jamais foi curado na história do mundo” é o mesmo que dizer “eu não tenho nenhuma evidência de que os coelhos vivem em meu quintal; portanto, nenhum coelho jamais viveu sobre neste quintal na história do mundo”. É uma conclusão que simplesmente não pode ser formada. Além disso, temos registros históricos de que Jesus curou leprosos, alguns de quem podemos presumir que tiveram perdidos dedos ou características faciais. Em cada caso, os leprosos eram completamente restaurados (Mc 1. 40 – 42; Lc 17. 12 – 14). Além disso, há o caso do homem com a mão atrofiada (Mat 12.9 – 13); e a restauração da orelha decepada de Malco (Lc 22. 50, 51); para não mencionar o fato de que Jesus ressuscitou os mortos (Mt 11.5; Jo 11), o que seria inegavelmente mais difícil que curar um amputado.
Premissa 2: a bondade e o amor de Deus requerem Dele a cura de todos. Doenças, sofrimento e dores são resultados de nosso viver em um mundo amaldiçoado – amaldiçoado por causa de nossos pecados (Gen 3. 16 – 19; Rom 8. 20 – 22). A bondade e o amor de Deus o levou a nos dar um Salvador para nos redimir da maldição (1 Jo 4. 9, 10), mas nossa redenção final não será realizada até que Deus tenha dado um ponto final no pecado no mundo. Até aquele tempo, nós estaremos sujeitos à morte física.
Se o amor de Deus requer que Ele cure todas as doenças e enfermidades, então ninguém morreria – porque o “amor” manteria todos em perfeita saúde. A definição bíblica de amor é “um sacrifício que busca o que é melhor para o ser amado”. O que é melhor para nós não é sempre a integridade de nossa saúde física. O Apóstolo Paulo orou para ter o seu “espinho da carne” removido, mas Deus disse-lhe “não” por que Ele queria que Paulo entendesse que não precisaria ser plenamente saudável para experimentar a graça sustentadora de Deus. Através desta experiência, Paulo cresceu em humildade e no entendimento da misericórdia e poder de Deus (2 Co 12.7 – 10)
O testemunho de Joni Eareckson Tada fornece um exemplo moderno do que Deus pode fazer por meio da tragédia física. Quando adolescente, Joni sofreu uma acidente de mergulho que a deixou tetraplégica. Em seu livro Joni, ela relata como, muitas vezes, ela foi visitada por “curadores da fé” e oravam desesperadamente pela saúde que nunca chegava. Finalmente, ela aceitou sua condição como vontade de Deus, e ela escreveu: “quanto mais eu penso nisso, mais eu estou convencida de que Deus não quer todo mundo saudável. Ele usa nossos problemas para Sua glória e nosso bem”(p. 190)
Premissa 3: Deus ainda realize milagres hoje, assim como ele fez no passado. Nos milhares de anos de história coberta pela Bíblia, nós encontramos quatro períodos curtos nos quais os milagres foram amplamente executados (o período do Êxodo; o período dos Profetas Elias e Eliseu; o Ministério de Jesus; e o período dos Apóstolos). Ainda que os milagres ocorressem através da Bíblia, foi apenas durante estes quatro períodos que os milagres eram “comuns”
O período dos Apóstolos terminou com o escrito do Apocalipse e a morte de João. Isto significa que agora, uma vez mais, os milagres são raros. Qualquer ministério que reivindique ser conduzido por uma nova geração de apóstolos ou reivindique possuir a capacidade de curar, está enganando as pessoas. Os “Curandeiros” apostam na emoção e usam o poder da sugestão para produzir “curas” inverificáveis. Isto não quer dizer que Deus não cure pessoas hoje – cremos que Ele o faça – mas não em números ou modos que algumas pessoas declaram.
Voltemo-nos, novamente, para a história de Joni Eareckson Tada, que naquele tempo procurou ajuda dos “pais da fé”. Sobre o tema dos milagres nos dias de hoje, ela disse: “o relacionamento do homem com Deus em nossos dias e cultura é baseada em Sua Palavra em vez de ‘sinais e maravilhas’”(op. cit. 190). Sua graça é suficiente e sua Palavra é certa.
Premissa 4: Deus é obrigado a dizer ‘sim’ para qualquer oração oferecida da fé. Jesus disse: “Eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”(João 14. 12 – 14). Alguns tentaram interpretar esta passagem como uma carata branca da parte de Jesus prometendo a Sua anuência com tudo o que pedimos. Mas isto é má interpretação da intenção de Jesus. Observe, em primeiro lugar, que Jesus está falando para seus Apóstolos e a promessa é para eles. Depois da ascensão de Jesus, aos Apóstolos foi dado poder para realizar milagres como pregar o evangelho (At 5. 12). Em segundo lugar, Jesus usa a frase “em meu nome” duas vezes. Isto indica a base para a oração dos Apóstolos, mas também implica que tudo o que oravam deveria estar em concordância com a vontade de Jesus. Uma oração egoísta, por exemplo, ou uma oração motivada por ganância, não pode ser dita que foi orada em nome de Jesus.
Nós oramos em fé, mas fé significa que nós confiamos em Deus. Nós confiamos Nele para fazer o que é melhor e Ele sabe o que é melhor. Quando consideramos todo o ensinamento da Bíblia sobre oração (não apenas a promessa dada aos Apóstolos), aprendemos que Deus pode exercitar Seu poder em resposta a nossa oração, ou Ele pode surpreender com um curso de ação diferente. Em Sua sabedoria, Ele sempre faz o que é melhor (Rom 8.28).
Premissa 5: a cura futura de Deus (na ressurreição) não pode compensar o sofrimento terreno. A verdade é que “as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”(Rom 8. 18). Quando um crente perde um membro, ele tem a promessa de Deus de uma plenitude futura e a “fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.”(Heb 11.4)(sic). Jesus disse: “melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno(Mat 18.8). Suas palavras confirmam a relativa falta de importância de nossa condição física neste mundo, quando comparada com nosso estado eterno. Entrar aleijado na vida eterna (e então ser completamente curado) é infinitamente melhor do que entrar inteiro no inferno (para sofrer a eternidade)
Premissa 6: O Plano de Deus está sujeito à aprovação do homem. Uma das alegações do argumento “por que Deus não cura amputados” é que Deus simplesmente não “honra” os amputados. No entanto, a Escritura deixa claro que Deus é perfeitamente justo (Sal 11.7; 2 Tes 1. 5, 6) e em Sua soberania não presta contas a ninguém (Rom 9. 20, 21). Um crente tem fé na bondade de Deus mesmo quando as circunstâncias tornam difícil e a razão parece hesitar.
Premissa 7: Deus não existe. Esta é a pressuposição subjacente a que todo o argumento “por que Deus não cura amputados” é fundamentada. Aqueles que defendem o “por que Deus não cura amputados” começam com a pressuposição de que Deus não existe e, então, avançam para reforçar suas ideias da melhor maneira possível. Para eles, “religião é um mito” é uma conclusão apressada, apresentada como uma dedução lógica, mas que é, na realidade, fundamental para o argumento.
Em certo sentido, a questão do por que Deus não cura amputado é uma questão do tipo “pegadinha”, comparável a “Deus pode fazer uma pedra tão grande que ele não possa levantar?” e não se destina a buscar a verdade, mas desacreditar a fé. Em outro sentido, pode ser uma pergunta válida com uma resposta bíblica. Essa resposta, em suma, deveria ser alguma coisa do tipo: “Deus pode curar amputados e curará todos deles que confiam em Cristo Jesus como salvador. A cura virá, não como resultado de nossas exigências agora, mas no tempo próprio de Deus, possivelmente nesta vida, mas definitivamente no paraíso. Até aquele tempo, nós caminharemos por fé, confiando no Deus que nos redimiu em Cristo e nos prometeu a ressurreição do corpo”.
Um testemunho pessoal:
Nosso primeiro filho nasceu faltando ossos nas pernas e nos pés. Seus pés tinham apenas dois dedos. Dois dias depois de seu primeiro aniversário, ele teve os pés amputados. Estamos pensando em adotar uma criança chinesa que teve problemas semelhantes e precisou de cirurgia. Sinto que Deus escolheu-me para ser uma mãe muito especial para estas crianças especiais, e eu não tinha ideia até ver o tópico sobre por que Deus não curar amputados, que as pessoas usaram isso como uma razão para duvidar da existência de Deus. Como mãe de uma criança que não tem os pés e uma mãe em potencial de outra criança que também em estado semelhante, eu nunca vi por aquela perspectiva. Pelo contrário, tenho viso Deus me chamando para ser uma mãe especial para ensinar outros sobre as bênçãos de Deus. Ele também tem me chamado para dar a estas crianças a oportunidade de serem inseridas em uma família cristã que vai ensiná-las as amar ao Senhor de um modo especial e entender que podemos suportar todas as coisas por meio de Cristo Jesus. Alguns podem achar que isto seja um obstáculo; nós achamos que seja uma experiência de aprendizado e desafio; nós agradecemos a Deus por Ele nos dar a algumas pessoas o conhecimento para realizar o necessário e fazer próteses que permitam o meu filho e, esperançosamente o próximo filho, a serem capazes de andar, correr, pular e viver para glorificar a Deus em todas as coisas. “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”(Rom 8.28)
Fonte: http://profgaspardesouza.blogspot.com/2010/07/por-que-deus-nao-cura-amputados.html
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
O propósito de Deus na permissão da dificuldade
Joni Eareckson Tada diz que o cristão precisa entender o propósito de Deus nas dificuldades.
Joni Eareckson Tada ficou mundialmente conhecida nos anos 1970 como ativista em luta permanente pelos direitos e pela qualidade de vida das pessoas portadoras de deficiência física. À frente do ministério Joni e Amigos, surgido após drama pessoal – na adolescência, um mergulho imprudente em águas rasas deixou-a tetraplégica –, ela percorre o mundo em sua cadeira de rodas, oferecendo esperança e muito mais a gente que, como ela, tem de atravessar a vida sofrendo com sérias limitações. Até hoje, sua instituição já distribuiu mais de 50 mil cadeiras de rodas, além de aparelhos ortopédicos, próteses e todo tipo de auxílio a deficientes físicos, sobretudo nos países mais pobres. Além, é claro, da palavra de esperança e salvação do Evangelho, mensagem de que Joni nunca abriu mão de anunciar.
Autora do livro testemunhal Joni, uma histeria inesquecível, sucesso em todo o mundo, ela tem sido vista como exemplo de superação e fé. Só que agora um novo drama se abateu sobre a vida dessa frágil mulher de 60 anos: o diagnóstico recente de um câncer de mama. A doença veio se somar a uma dor crônica que a vem atormentando há uns dez anos. Parecendo otimista e confiante após uma cirurgia oncológica, ela rejeita comparações com Jó, ícone do sofrimento na Bíblia, mas admite que, por vezes, não sabe o que pensar acerca de um Deus que, conforme a crença evangélica, tem poder para curar todas as enfermidades do corpo e da alma. “Qualquer cristão luta para entender o propósito de Deus na dificuldade”, diz. “Lembro sempre da passagem de I Pedro 2.21: ‘Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos.’”
Joni falou com CRISTIANISMO HOJE sobre seu livro mais recente, A place of healing: Wrestling with the mysteries of suffering, pain and God´s sovereignty (ainda inédito em português, a tradução literal do título é “Um lugar de cura: Lutando com os mistérios do sofrimento, da dor e da soberania de Deus”), da editora David C. Cook. Longe de ser um memorial de lamúrias, a obra descreve sua teologia do sofrimento.
CRISTIANISMO HOJE – O quanto sua perspectiva sobre sofrimento e cura mudou desde o diagnóstico do câncer?
JONI TADA – Felizmente, não mudou de forma alguma. Diante de situações assim, você examina a Escritura novamente e segue todas as passagens referentes à cura. Fiz isso com a minha quadriplegia, há mais de 40 anos, e de novo dez anos atrás, quando passei a experimentar uma dor crônica. Há um mês, ao receber o diagnóstico de câncer de mama, olhei para esses mesmos textos da Escritura, e as palavras de Deus não mudam. Embora a impressão seja a de que muita coisa tenha sido acumulada, continuo pensando em I Pedro 2.21: “Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos.” Esses passos, na maioria das vezes, conduzem os cristãos não a intervenções miraculosas ou divinas, e sim, diretamente à comunhão do sofrimento. É um bom princípio básico para qualquer cristão que luta para entender o propósito de Deus na dificuldade.
E a relação com Deus, como fica?
De certo modo, tenho sido atraída para mais perto do Salvador. Há coisas sobre o seu caráter que eu não via. Isso me diz que ainda estou mudando, crescendo, sendo transformada, e me tornando mais como ele. Jesus disse que quem tivesse fé nele, faria coisas ainda maiores do que as que ele fez. Somos inclinados a pensar que Jesus estava falando sobre milagres – mas, não necessariamente. Ele estava oferecendo o Evangelho; estava fazendo avançar o seu Reino; estava reivindicando a terra como sua, por direito. Então, quando fez essa promessa, o Salvador deu a todo crente a capacidade de também fazer isso. É isso o que tenho visto no último mês. É incrível a quantidade de pessoas sedentas por Cristo que tenho encontrado, desde médicos a enfermeiros, e todo o pessoal técnico dos centros médicos onde sou tratada. Eu sei que isso era verdade antes, mas parece haver algo especial acompanhando esse diagnóstico. A todos, tenho falado de confiança no amor de Deus por nós.
Impossível deixar de fazer a pergunta clássica. Na sua opinião, como um Deus bom permite que as pessoas, mesmo as que creem nele de todo coração, sofram tanto?
Quem faz essa pergunta – e eu mesma luto com ela – não está aceitando o fato de que este mundo está comprometido. Vivemos em um mundo caído. Quando não experimentamos o sofrimento, isso é uma exceção. O princípio básico é o de que experimentaremos muito sofrimento, porque vivemos em um mundo que geme sob o peso de uma pesada maldição. Se ser bom, para Deus, significa dar cabo do pecado, então ele teria de dar cabo dos pecadores. Mas o Senhor é um Deus de grande generosidade e enorme misericórdia, de modo que permite o curso do sofrimento. Ele não o detém até que haja mais tempo para amealhar mais pessoas para o aprisco da comunhão de Cristo.
Existem sofrimentos que vêm por causas naturais e outros que são provocados pela ação humana, ou seja, entre as diferentes causas da dor, em muitas delas a vítima nada podia fazer para evitá-las. Que tipo de sofrimento é mais fácil de aceitar?
Sofrimento é dificuldade e pesar. É tudo um pacote só. Sim, Deus poderia evitar o sofrimento. Pode, por exemplo, impedir que um assaltante atire contra a vítima ou evitar o surgimento de um tumor. Se ele escolhe permitir que essas coisas ocorram, isso não quer dizer que seja menos cuidadoso ou compassivo. Sua vontade, seu propósito e seu plano soberano podem ser um pouco mais obscuros e enigmáticos deste lado da eternidade. Quer a dificuldade seja resultado de negligência de quem a enfrenta ou fruto da ação direta de uma outra pessoa, ou, ainda, de uma catástrofe natural, é preciso lembrar que todas essas coisas estão ao alcance da soberania divina. Um olhar mais atento sobre o Novo Testamento mostra que a soberania de Deus se estende sobre todas as coisas – e ele permite todos os tipos de coisas, mesmo aquelas que não aprova. Ele não aprova, por exemplo, minha lesão medular ou o meu câncer, mas em sua soberania ele os permitiu. Não me importo se o termo usado for “deixar”, “permitir” ou “ordenar”. É tudo a mesma coisa. No final das contas, tudo se resume ao fato de que Deus está no controle. Não penso que haja uma diferença prática.
Fonte: Sarah Pulliam Bailey (http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=36)
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Crianças precisam brincar
Há vários anos, vem aumentando o número de estudos e estatísticas sugerindo que a cultura do “brincar” está desaparecendo nos Estados Unidos. As crianças passam tempo demais na frente de uma tela, lamentam os pais e educadores – uma média de 7 horas e 38 minutos por dia, segundo uma pesquisa realizada no ano passado pela Kaiser Family Foundation. Apenas uma em cada cinco crianças mora perto de um parque ou playground, segundo um relatório de 2010 produzido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, deixando-as ainda menos inclinadas a brincar ao ar livre.
Por trás dos números está não apenas o comportamento das crianças, mas também o dos adultos: o pai digitando furiosamente em seu Blackberry, estressado demais pelo trabalho para tolerar jogos barulhentos no ambiente. Fins de semana tomados por futebol e outras ligas de esportes, todas organizadas e dirigidas por pais. Toda a lista de aulas – xadrez, natação, inglês, balé – e o dever de casa começando nas séries mais novas. Some a isso todas as preocupações de segurança dos pais, que afetam até mesmo os verdadeiros crentes, como Sarah. “As pessoas têm medo de deixar seus filhos na rua, mesmo onde eu moro”, disse ela. “Se quero que meus filhos saiam de casa, tenho de ir com eles”.
Kathy Hirsh-Pasek, psicóloga desenvolvimentista da Universidade Temple, na Filadélfia, concluiu: “Brincar é simplesmente algo natural para animais e humanos. Mas, de alguma forma, nós retiramos isso das crianças”.
Pouco tempo para brincadeiras parece estar no final da lista de preocupações da sociedade, mas cientistas, psicólogos, educadores e outros entusiastas do “brincar” dizem que a maioria das habilidades sociais e intelectuais necessárias para o sucesso na vida e no trabalho são desenvolvidas inicialmente nas brincadeiras da infância.
Através das brincadeiras, as crianças aprendem a controlar seus impulsos, solucionar problemas, negociar, pensar de maneira criativa e trabalhar em equipe – como quando cavam juntas numa caixa de areia, ou constroem um forte com as almofadas do sofá. Os especialistas definem o “brincar” como um jogo ou atividade iniciado e comandado por crianças. Então, o videogame não conta, segundo eles, exceto talvez por aqueles que envolvem criar algo. Tampouco contam brinquedos “educativos” que fazem coisas como cantar o abecedário quando a criança aperta um botão.
Os entusiastas da atividade estão começando a buscar os pais, reconhecendo que, para o movimento funcionar, as atitudes parentais precisam evoluir – começando com disposição para tolerar um pouco mais de imprevisibilidade na agenda das crianças e um pouco menos de estrutura em casa. Construir aquele forte, por exemplo, provavelmente envolverá desmontar o sofá e esvaziar o armário de roupa de cama – um lençol faz um excelente telhado.
Para tentar abarcar mais pais, uma coalizão chamada “Play for Tomorrow” (“Brincar pelo Amanhã”, em tradução livre) organizou, em outubro passado, um gigantesco dia de brincadeiras no Central Park, em Nova York. O evento, intitulado “The Ultimate Block Party” (“A Melhor Festa de Rua”, em tradução livre), oferecia jogos de adivinhação, montes de massa de modelar, giz, blocos de montar, quebra-cabeças e muito mais. A Fundação Nacional de Ciência foi envolvida no projeto, explicando aos organizadores – e enfatizando para os pais – o valor científico e educacional por trás de cada uma das tarefas selecionadas. Os organizadores esperavam atrair 10 mil pessoas ao evento. Mais de 50 mil compareceram.
“Ficamos extasiados”, disse Roberta Golinkoff, psicóloga desenvolvimentista da Universidade de Delaware e cofundadora do evento, ao lado de Kathy. Agora, as duas estão negociando levar a festa para outras cidades, além de tornar o encontro no Central Park um acontecimento anual. O objetivo, de certo modo, é retornar aos velhos tempos.
“Quando eu estava crescendo, havia uma cultura de infância que era mantida pelas crianças”, disse Jim Hunn, vice-presidente da KaBOOM, uma entidade sem fins lucrativos que comanda a redução do que eles mesmos chamam de “déficit de brincadeiras”. Para reviver essa cultura, segundo ele, “os pais precisam se reafirmar neste processo e ensinar as brincadeiras às crianças. É crucial que os pais tomem uma atitude e saiam para brincar com seus filhos”.
Como brincar
Uma parte importante do movimento está ensinando as próprias crianças como brincar. Uma criança média de 3 anos consegue pegar um iPhone e habilmente rolar pelo menu de aplicativos, mas quantas crianças de 7 anos conseguem organizar um jogo de futebol com os amigos da vizinhança?
Com isso em mente, no evento do Central Park, os pais receberam um “livro de brincadeiras” de 75 páginas, delineando pesquisas sobre o “brincar” e oferecendo sugestões de atividades divertidas – coisas que as gerações passadas faziam sem precisar de estímulo, e que podem evocar, nos pais de hoje, sentimentos de identificação e nostalgia.
“Suba no sofá com seus amigos e finja que está navegando num barco a uma terra distante”, diz uma ideia. Outra, da seção de brincadeiras construtivas: “Coloque um brinquedo no chão e descubra como construir uma ponte passando sobre ele, usando blocos de montar”. “Crie bonecos com recortes de revistas e jornais velhos”, sugere uma terceira, “e deixe sua imaginação voar!”
Fonte:http://delas.ig.com.br/filhos/movimento+busca+recuperar+antigas+brincadeiras+infantis/n1237973214316.html
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