quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A provisão divina no sofrimento humano



As Escrituras Sagradas, em uma de suas belas narrativas, relata a história de uma mulher que vivia sob o estigma da aparente “maldição” da infertilidade, para colmatar a situação havia uma rival que a provocava “excessivamente”, causando-lhe um sofrimento ainda maior. Na cultura judaíca daquela época, havia uma crença comum de que uma mulher infértil, estava sob a égide de uma “maldição Divina”, ou seja, eles criam que ela havia cometido algum pecado e por isso, estava a receber o castigo merecido. Ana é o seu nome, e a verdade é que nem ela nem os seus antepassados haviam cometido qualquer malefício, sabe-se pela narrativa que havia um propósito do Eterno naquela circunstância. Essa mulher era de uma piedade exemplar: sua família é um protótipo de uma família cristã: sacrificavam ao Senhor todos os anos, participavam das solenidades religiosas, desciam ao templo constantemente a fim de adorar ao Senhor, enfim temos todas as evidências de uma vida santa e correta.

Crenças equivocadas podem promover juízos de valores perversos àqueles que sofrem: “... você está nessa situação porque tem alguma coisa na sua vida que precisa ser consertada...”, “...você tem um bloqueio...” “...você precisa orar mais...”. Palavras e atitudes cruéis, as vezes são pródigas em ambientes, que a princípio, deveriam promover o acolhimento, a restauração, o carinho, a aceitação, o afeto e a reconciliação. De fato o mundo religioso nem sempre reflete a paternidade de Deus e a aceitação do Aba Pai. Àqueles que sofrem podem questionar, o que é perfeitamente natural, porquê eu? O que fiz? Qual o mal que cometi? Se for um cristão pode perguntar: “...aonde estava Deus naquele momento...?” “...orei intensamente e não fui curado porque será?...”. Com a devida permissão, e sem desmerecer a dor que está passando, o que já é um sofrimento em si mesmo, é possível perspectivar outras possibilidades e mudar o foco das incógnitas.

É provável que a pessoa mais apropriada para entender um divorciado, seja exatamente, quem já passou por essa ruptura. Mães e pais que foram “agraciados” com crianças defeituosas podem exercer candura com outros pais na mesma situação. Pais de jovens drogados tem mais empatia por outros que vivem esse mal dos tempos modernos. Por outras palavras, o sofrimento quando interiorizado na perspectiva Divina, promove humanidade redimida na relação interpessoal. Somos mais espirituais quando somos mais humanos.

Pode-se sair melhor no sofrimento, aliás, é no ambiente de intensas provações que o caráter é formado. Tiago diz que o benefício maior é a promoção de um ser mais compassivo, ele usa o termo perseverança que é a mesma palavra para paciência, e tomo a liberdade para acrescentar que só quem aprendeu a ter paciência pode exercer compaixão, a idéia no original transmite três conceitos: estabilidade, constância e tolerância (hupomone). Portanto, é assim que alguém que não suportava ninguém, aprende a tolerar o outro, aceitá-lo, compreendê-lo e amá-lo.

Além do efeito redentor que o sofrimento promove no ser humano redimido, a saber: uma personalidade santificada, um ser mais empático com o sofrimento alheio e uma capacidade de espera além do normal, há algo que é igualmente necessário e restaurador a fim de passar pelo sofrimento: a suficiência abundante da graça Divina que promove paz interior acima da capacidade de compreender os fatos.

Uma mãe dedicada que perde o filho de forma trágica, por um descuido inconsciente, precisa de graça de Deus a fim de não sucumbir aos constantes sentimentos de culpa e dor, profundamente enraizados na sua vida. Pode-se dizer nesse caso que onde abunda a culpa superabunda o perdão Divino. Como diria Corrie teen Bom: “... Não há abismo tão profundo que Deus não seja mais profundo ainda...”, e ela sabia do que estava falando, sofrera nos campos de concentração nazista as mais perversas crueldades do sistema maligno de Adolfo Hitler.

Sejamos sinceros, em nós mesmos não há força “positiva” que nos leve a superar a tragédia, a dor, os traumas, as fatalidades, as injustiças, as crueldades, o desencanto, e todas as mazelas de uma humanidade decaída e pecaminosa em sua essência e prática. É preciso algo mais, é necessário uma suficiência transcendente e capacitadora, que nos leve a viver a vida em meio a dilemas e fatos cruéis, com doçura, generosidade, perdão e alegria.

Nos primeiros séculos da era cristã, havia um sujeito radical, apaixonado, e comprometido com a sua crença, em consequência de suas atividades e compromisso, encontrava-se em uma prisão solitária. Frio e fome eram o seu “pão de cada dia”. Tinha razões de sobra para estar amargurado, desiludido e sem esperança, entretanto, para esse “gigante” da cristandande “... com a força que Cristo lhe proporcionava ele podia enfrentar qualquer situação.” (Fil.4.13)

Na carta que escreve à minúscula e amorosa igreja em Filipos ele exorta-a a viverem com alegria. Alegria não por causa da ausência de sofrimento, e sim, pela paz, advinda da graça que Jesus confere àqueles que o amam e o seguem, mesmo sem compreender os intrincados caminhos “injustos” da vida terrenal.

Fonte: Texto de Josenaldo Silva. Revista Eclésia - Edição 140.

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