sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Bíblia na recuperação de dependentes químicos


Cada vez mais, a leitura e o estudo do Livro Sagrado têm sido reconhecidos como práticas eficazes no tratamento do dependente químico. A Palavra de Deus, cada vez mais, têm sido utilizada e reconhecida como ferramenta fundamental no tratamento da dependência. “A grande preocupação daqueles que atendem a dependentes químicos é devolver a essas pessoas a autoestima, semeando a esperança da recuperação. No dia a dia das comunidades terapêuticas, a mensagem bíblica tem se mostrado uma importante aliada nesta tarefa tão desafiadora”, destaca o secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert, observando que a fé sadia, associada à boa aplicação dos princípios bíblicos, promove a recuperação do indivíduo.

Quem faz eco a essa afirmação é Everton Jesus Facundo (foto de abertura), que aplicou em sua vida essa teoria de forma bem-sucedida. “A recuperação e libertação do vício só vêm através da Palavra de Deus”, sentencia. A os 20 anos, o jovem recebeu apoio e orientação da Associação Grupo de Apoio a Dependentes de Drogas e Familiares (Agadef), que utiliza a Bíblia Sagrada na recuperação de dependentes químicos. No caso de Facundo, além de terapêutica, a leitura e estudo bíblicos fizeram desabrochar um potencial que antes estava represado: o da pregação. “Agora, auxilio nos cultos e louvores e sou muito feliz”, testemunha.

Ele não é o único a experimentar os resultados positivos dessa prática. “Ganhei a Bíblia na rua, há seis anos, quando estava bêbado”, recorda Edmilson dos Santos. “Ao ler a mensagem de D eus me fortaleci para nunca mais beber. Hoje, aos 39 anos, Santos é conhecido como Pastor Edy e é coordenador do projeto Restituição, em Barueri (SP), que atende a 15 pessoas. “Atualmente uso a Bíblia como instrumento fundamental na recuperação de muita gente”, ressalta.

Experiência semelhante teve José Carlos da Silva. Ex-usuário de drogas, há cinco anos dirige a comunidade terapêutica Missão Jesus e Luz, de Ubatuba (SP). “Para se libertar do vício é preciso lutar muito. Por meio da Palavra, o dependente se inclui novamente na sociedade. Eu não tinha mais jeito, mas como para Deus nada é impossível, hoje sou um homem livre”, comemora agradecido.

De família de classe média alta, André Luís Forster Geromel relata sua experiência com a força de quem quer que ela sirva de exemplo àqueles que acham não ter mais saída. “A vida me deu todas as oportunidades. Mas mesmo assim entrei no mundo das drogas. Tentei de tudo para sair dessa. Eu estava na sarjeta, quando, em 2004, um pastor me ofereceu ajuda e encaminhamento ao centro terapêutico”, relembra. Durante o ano e meio que passou na comunidade, a Bíblia Sagrada foi sua fiel companheira. “Todo o vazio que sentia foi preenchido”, garante ele que, aos 48 anos, está trabalhando para resgatar os laços com seus familiares.

É alimentada por essa esperança que Márcia de Cássia Baptista vem conseguindo enfrentar seu dia a dia. Mãe de um jovem de 26 anos, viciado em crack, ela frequenta o grupo de apoio da Igreja do Evangelho Quadrangular, na capital paulista. “A doença do meu filho me deixou codependente. Tem hora que só Deus para ajudar. Se não fossem os aconselhamentos espirituais eu já teria enlouquecido”, revela. Seu filho, que já foi internado em clínicas, frequenta por vezes o grupo e vem demonstrando evolução na libertação do vício. “Quando ele fica agitado, para confortá-lo, a gente ora e lê a Bíblia juntos”, ensina.

E ela está certa. De acordo com o secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert o uso adequado da Bíblia na recuperação se dá por sua leitura regular, de preferência com alguém ou em grupo. “Um ajuda o outro”, recomenda Seibert que é doutor em Ciências da Religião e trabalhou por muitos anos na área de aconselhamento.

Princípios cristãos

Seibert pondera que a fé na recuperação faz parte da essência do cristianismo. “Todas as pessoas têm dificuldades, todas merecem uma oportunidade e podem ser recuperadas”, esclarece. No entanto, ele alerta para a necessidade de se fazer um uso saudável e apropriado do texto bíblico. “Não se pode usá-lo de forma autoritária, apenas como lei. O texto bíblico é orientador, disciplinador e repleto de valores que promovem a liberdade espiritual do indivíduo”, enumera.

Compartilhando do mesmo pensamento, Marcelo Dias, coordenador terapêutico do Centro de Recuperação Leão de Judá, em Palmeiras das Missões (RS), revela que para muitos especialistas o vício é uma doença degenerativa, crônica e incurável: “Quando Jesus veio ao mundo e ministrou diversos milagres, mostrou que a vida é curável por inteiro. Eu mesmo sou um recuperado que, agora, multiplica os valores bíblicos”.

“A Bíblia é o nosso principal instrumento. É dela que vêm as palavras de cura e libertação nas quais cremos”, diz Clodoaldo Rocha, coordenador do Aconselhamento em Dependência Química da Igreja do Evangelho Quadrangular, na cidade de São Paulo.

Localizada em Ananindeua (PA), a comunidade terapêutica Sítio Boa Morada tem um índice de recuperação de 90%. Com 10 anos de atuação, a entidade atende a 20 dependentes, que participam de três sessões diárias de leitura bíblica. “A Bíblia transforma as pessoas. Sem ela, não há recuperação”, avalia Sinval Barroso Negreiros, coordenador da instituição.

Também adepta do uso da Bíblia como ferramenta primordial na recuperação, Maria Lúcia Souza Pinto, diretora do Centro de Recuperação Salomão, em Brasília (DF) e ex-dependente química, ressalta que a experiência com a Bíblia é maravilhosa e fortalece o trabalho espiritual. “Todos aqui leem a Palavra de Deus e a colocam em prática”, conta.

Estatísticas crescentes

De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em 25 de agosto de 2009, o Brasil apresentou, em 2006, aumento no consumo de cocaína e maconha. Mas essa não é uma prerrogativa brasileira. N o mundo, de acordo com o mesmo relatório, há cerca de 200 milhões de usuários de drogas ilícitas, dos quais mais da metade consomem uma vez por mês e 25 milhões são dependentes químicos.

Atenta a essa questão, a SBB mantém o projeto Despertar, integrante do programa Ação Social pela Paz. Seu objetivo é contribuir para a recuperação do dependente químico e prevenir o uso de drogas. O projeto é desenvolvido em parceria com organizações especializadas no tratamento terapêutico desse público. Em conjunto com essas organizações, a SBB criou a COMTER (Comunidades Terapêuticas em Rede), a fim de estimular a troca de experiência e utilização da Bíblia Sagrada no processo de recuperação.

Em 2008, por meio do projeto, a SBB atendeu a 45 comunidades terapêuticas com material bíblico. A principal ferramenta oferecida pela organização é a Bíblia de Estudo Despertar. Apenas no ano de 2008, mais de seis mil exemplares da publicação foram doados a instituições que atuam nessa área.

Além da distribuição de literatura bíblica adequada a esse público, o projeto caracteriza-se pela promoção de eventos que colocam em discussão o tema e buscam encontrar saídas para minimizar o problema no País. Entre eles, destaca-se o Seminário de Dependência Química. Sua segunda edição foi realizada em 25 de junho, no Museu da Bíblia, em Barueri (SP), por ocasião do Dia Mundial de Combate às Drogas. Sob o tema “A Fé: um ato de coragem na recuperação”, reuniu mais de 400 pessoas e colocou o foco em uma velha conhecida de todos que trabalham nessa área: a questão da prevenção.

Um dos palestrantes convidados, Luiz Carlos Magno acredita que a questão da droga deve ser vista de forma multifatorial. “Deve-se levar em conta o ambiente do usuário e a dinâmica social em que ele vive”, ressaltou Magno, que é professor de Medicina Legal. Ex-delegado do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), Magno fala com a propriedade de quem tem conhecimento acumulado por quase 20 anos à frente da instituição. “Hoje a visão policial é bastante coerente com a escola de atendimento. Ou seja, vemos o dependente como um paciente, alguém que precisa de ajuda”, disse. Para ele, é muito importante desenvolver um forte trabalho no âmbito da prevenção. “A família e a escola também devem atuar de forma preventiva”, disse o professor, ressaltando que é a partir dos 12 anos de idade que, em geral, o jovem faz sua primeira incursão no mundo das drogas.

Partidário da mesma opinião o deputado estadual Waldir Agnello acredita que além de combater o uso de drogas, é preciso tratar o dependente. “O combate às drogas está diretamente ligado a políticas públicas em todas as esferas de governo”, recomendou o político que também é membro da Diretoria da SBB.

“O seminário promovido pela SBB foi muito importante, pois reuniu pessoas com o mesmo propósito: usar a Bíblia em benefício da recuperação e também para estreitar laços e promover a troca de experiências entre as comunidades terapêuticas”, observou o Pastor Rui Nevel do Nascimento, diretor da organização Desafio Jovem Sopro Divino, de Americana (SP). “Não vemos outra saída que não seja pelas mãos de Deus. Muitos dos que se recuperam aqui se tornam pastores”, observou Nascimento revelando que ele mesmo é um exemplo desse trabalho.

Fonte: Revista A Bíblia no Brasil - Número 225 - Outubro a Dezembro de 2009 - Ano 61 - Sociedade Bíblica do Brasil.

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