quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Não me odeie porque sou Arminiano


Meus amigos reformados algums vezes me tratam como inimigo, mas na verdade precisamos uns dos outros.

Durante os grandes avivamentos do século dezoito, John Wesley e George Whitefield pararam de cooperar um com o outro devido às suas diferentes crenças acerca da predestinação. E embora eles finalmente se reconciliaram, sua divergência persiste em debates ocasionais de evangélicos americanos sobre a soberania de Deus e as doutrinas da eleição e do livre-arbítrio.

Apesar desta história, a aliança evangélica pós-segunda guerra mundial mantém juntos crentes calvinistas e arminianos dentro de um grande movimento. Pelo menos há tanto igrejas membros da Associação Nacional de Evangélicos arminianas em sua orientação teológica quanto reformadas.

Mas agora, sinais de grande tensão dentro da aliança estão aparecendo, incluindo uma nova estridência e agressividade da parte de teólogos em alguns círculos reformados mais conservadores. Como um inveterado arminiano assim como evangélico, e como alguém que se preocupa profundamente com a unidade da comunidade evangélica, acho que isto é muito lastimoso.

Alguns destes teólogos acham que o evangelicalismo enfrenta uma crise que se concentra na questão da predestinação. “Cristãos que negam a eleição incondicional e a graça irresistível podem ser genuinamente evangélicos?” eles perguntam. Michael Horton, professor no Seminário Teológico de Westminster, na Califórnia, afirma na revista Modern Reformation que “arminiano evangélico” não é uma opção mas um oxímoro. “Um evangélico,” ele diz, “não pode ser arminiano mais do que um evangélico pode ser um católico romano.” Até mesmo o grande reavivalista arminiano John Wesley é suspeito de uma fé evangélica defeituosa por Horton e alguns de seus colegas em duas organizações, a Christians United for Reformation (CURE) e a Alliance of Confessing Evangelicals (ACE). Estes e outros movimentos evangélicos contemporâneos buscam restabelecer e entronizar o monergismo – a crença na atividade única e soberana de Deus na salvação – como crucial ao evangelicalismo autêntico.

Em anos recentes, uma enchente de livros e artigos editados e escritos por líderes acadêmicos evangélicos reformados (como R. C. Sproul do Ligonier Ministries) têm levantado questões sobre a validade das credenciais evangélicas de todos e cada um dos protestantes arminianos que negam a eleição incondicional e afirmam a graça resistível. A ACE escreveu a “Declaração de Cambridge,” que criticou, entre outras supostas aberrações entre os evangélicos, a crença de que os seres humanos podem cooperar com a graça regeneradora de Deus.

Espero por outro período de tranquilidade entre nós que cremos na capacidade da alma de cooperar com a graça regeneradora (arminianos) e aqueles que crêem que a graça regeneradora deve preceder até mesmo o arrependimento e a fé (calvinistas).

Quando iniciei o seminário eu era filho de um pregador pentecostal convencido a me tornar um “esmurrador de púlpito” teologicamente instruído. Eu me graduei numa “aspirante” a universidade acadêmica teológica completamente evangélica pós-pentecostal. Enquanto no seminário, eu descobri que alguém poderia ser cheio do Espírito e também intelectualmente sério, aberto a pontos de vistas diversos dentro da mais ampla herança evangélica, e até mesmo teologicamente reformado! Essa revelação veio a mim através das vidas e ensino de professores como Ralph Powell, Al Glenn, Sam Mikolaski e James Montgomery Boice. Revistas como a Eternity e a Christianity Today ajudaram a transformar minha anteriormente mais estreita idéia de cristianismo evangélico “pleno” autêntico. Mas passando por isso tudo, e apesar de sérias lutas com seus problemas, eu conservei o Arminianismo de minha herança holiness-pentecostal.

Dois conselhos que aprendi do meu mentor evangélico no seminário, um batista moderadamente reformado, se fixaram especialmente em minha mente. Durante a recepção, imediatamente após a cerimônia de graduação, Ralph Powell me puxou para o lado, e da maneira mais tocante, característica de um avô, disse: “Roger, jamais perca sua excelência evangélica.” Sabendo que eu planejava continuar minha educação teológica numa universidade secular, ele não poderia pensar num conselho de despedida melhor para o seu jovem protegido. Nem eu poderia. Sempre tenho lembrado de sua exortação afetuosamente e dado meu melhor para satisfazer seu desafio.

O outro conselho veio mais cedo. Powell estava preocupado com minhas crenças arminianas um tanto firmes. Um dia ele me levou à parte e disse, “Roger, você deve saber que o Arminianismo geralmente tem levado à teologia liberal.” Como muitos teólogos reformados, ele acreditava que uma ênfase arminiana no livre-arbítrio concede poder demais à humanidade e por essa razão contém um impulso humanista. Embora apreciei sua admoestação implícita, eu sabia de minha própria experiência que isto não era inteiramente verdadeiro. Desde então, tenho me esforçado para provar que a teologia arminiana e uma excelência evangélica podem ser combinadas confortavelmente.

Teologia Tulip – fabricada na Holanda

A teologia arminiana não começou na Armênia. Na verdade, ela não tem nada a ver especificamente com aquela parte da Ásia. O Arminianismo é uma designação derivada do nome de um teólogo holandês que morreu em 1609 no auge de uma controvérsia envolvendo a doutrina da predestinação. Jacob Arminius rejeitou algumas das doutrinas do Calvinismo enquanto aceitava outras. Ele estudou sob o sucessor de Calvino em Genebra, Theodore Beza, mas veio a repudiar algumas das crenças de Beza, tais como a eleição incondicional e a graça irresistível, em favor da eleição condicional, o livre-arbítrio e a graça preveniente, resistível.

A contraparte fielmente reformada em teologia na Universidade de Leiden era Franciscus Gomarus – outro aluno de Beza – que insistia que as doutrinas que Arminius rejeitou eram partes integrantes da ortodoxia teológica reformada.

Os seguidores de Arminius na Holanda ficaram conhecidos após sua morte como remonstrantes, e alguns deles formularam um documento conhecido como a Remonstrância, no qual eles detalharam sua rejeição da teologia calvinista de Gomarus. O resumo da fé reformada de Gomarus tinha cinco pontos (a famosa fórmula “TULIP”): depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e a perseverança.

Arminius mesmo nunca negou o primeiro e o último dos cinco pontos, e seus seguidores os debateram entre si por séculos. Resumidamente afirmados, os “cinco pontos” rejeitados pelos remonstrantes significam (em ordem) que os humanos são todos (com a exceção de Jesus Cristo) nascidos completamente mortos espiritualmente e incapazes de fazer qualquer coisa agradável a Deus por causa da herança da natureza caída de Adão; Deus predestinou certas pessoas para receber perdão e vida eterna, e a seleção de Deus de forma alguma foi condicionada pelas vidas ou decisões dos eleitos; Cristo morreu na cruz para proporcionar sacrifício expiador para os pecados somente dos eleitos; Deus comunica a graça regeneradora aos eleitos de tal forma que eles não podem ou querem resistir; e os eleitos de Deus irão perseverar em estado de graça até a salvação final.

Os principais ministros reformados e líderes políticos das Províncias Unidas dos Países Baixos – das quais a Holanda era o estado mais proeminente – se encontraram no Sínodo de Dort de novembro de 1618 a janeiro de 1619 e condenaram os remonstrantes como heréticos. Dort afirmou os assim chamados cinco pontos do Calvinismo como ortodoxos e forçaram os seguidores de Arminius ou a retratar suas crenças no livre-arbítrio, eleição condicional, graça irresistível e expiação ilimitada ou a serem banidos da Igreja Reformada e dos Países Baixos. Alguns líderes arminianos, tais como o estadista holandês Hugo Grotius, foram presos. Um foi decapitado. Nesses dias não era tão fácil separar teologia e política como fazemos hoje em dia.

Como resultado do Sínodo de Dort, os arminianos se espalharam para outros países e encontraram refúgio em outros ramos do Cristianismo protestante. Os menonitas e outros anabatistas já criam quase a mesma coisa sobre a eleição divina e a salvação como muitos dos arminianos: A eleição se refere ao pré-conhecimento de Deus daqueles que livremente responderiam ao evangelho conforme fossem capacitados pela graça preveniente. A teologia arminiana encontrou aceitação dentro da Igreja da Inglaterra, embora muitos nessa igreja resolutamente se opuseram a ela em favor da teologia reformada.

Gradualmente os arminianos se dividiram em dois grupos, que Alan P. F. Sell – um intérprete moderno da história da controvérsia reformada-arminiana – classifica como “Arminianismo da cabeça” e “Arminianismo do coração.” Os primeiros se inclinaram ao Deísmo e à teologia liberal. Muitos finalmente se tornaram unitários. Os últimos foram fortemente influenciados pelo pietismo alemão e enfatizavam a conversão pessoal e a santificação.

John Wesley foi o principal “arminiano do coração” no século dezoito, e seu movimento metodista foi profundamente caracterizado pela teologia arminiana do “livre-arbítrio”. Àqueles evangélicos de seu dia, que o acusavam de ter tendências humanísticas e católicas por causa de sua rejeição da eleição incondicional e da crença no livre-arbítrio, Wesley afirmou a absoluta necessidade da graça preveniente (capacitante mas resistível) de Deus para superar a ferida mortal do pecado e ter livre-arbítrio suficiente para aceitar ou rejeitar a graça salvadora responsavelmente.

Os primeiros batistas foram divididos por esta controvérsia reformada-arminiana. Os pregadores e as congregações batistas que adotaram as doutrinas calvinistas da eleição incondicional, expiação limitada e a graça irresistível vieram a ser conhecidos como “batistas particulares,” enquanto os que seguiram os ensinos arminianos foram chamados de “batistas gerais.”

Reavivalistas e seus conversos durante os Grandes Avivamentos dos anos 40 do século dezoito e início do século dezenove na América freqüentemente se dividiram em tais linhas teológicas. Jonathan Edwards da Nova Inglaterra foi um gênio na defesa de uma forte visão reformada da soberania de Deus e da depravação do homem. Charles Finney, um século mais tarde, promoveu uma versão extremada do Arminianismo. Todo o Movimento de Restauração que deu origem às Igrejas de Cristo e Igrejas Cristãs Independentes era arminiano, como foi o movimento Holiness e seus descendentes, o movimento pentecostal. Ambos, Dwight L. Moody e Charles Spurgeon, por outro lado, eram calvinistas.

Todos na família

Eu fui criado espiritualmente no âmago do Cristianismo evangélico arminiano. Algumas das minhas mais vívidas lembranças da infância são de transpirar nas noites de verão debaixo do tabernáculo lateralmente aberto dos Acampamentos Nazarenos de Iowa em West Des Moines. “Santidade ao Senhor!” declarava a faixa sobre o palanque; centenas – talvez milhares – de adoradores Holiness e pentecostais, todos à minha volta, gritavam e cantavam e louvavam o Senhor até tarde da noite. Nossa própria pequena denominação pentecostal, como o maior movimento Holiness-pentecostal, era inteiramente arminiana em sua orientação teológica. A vontade universal de Deus pela salvação de todos e a liberdade de todos para crer e receber a mensagem do evangelho era fundamental à nossa visão de Cristianismo evangélico. Não havia nenhuma possibilidade da teologia liberal invadir nossa teologia. Nenhum grupo de cristãos na história jamais creu mais apaixonadamente na Bíblia como a Palavra escrita sobrenaturalmente inspirada e infalível de Deus. A santidade e a majestade de Deus eram também centrais à nossa pregação e ensino, apesar de que a soberania de Deus era interpretada como geral antes que meticulosa. Para nós, Satanás era um demônio real – um cachorro louco numa corrente longa – e de forma alguma o “Satanás de Deus”. E todavia, críamos e ensinávamos que Deus finalmente venceria a guerra espiritual cósmica e que Satanás poderia somente descarregar tanta destruição conforme Deus o permitia assim fazer.

As reuniões de família eram eventos fascinantes. Minha família mais ampla incluía, de ambos os lados, cristãos de várias pontos de vistas, e muitos deles eram ardentes e francos acerca de suas crenças. Do lado do meu pai, a maioria dos parentes eram ou Holiness ou pentecostais, e as reuniões de família geralmente se dividiam em discussões acaloradas sobre a santificação plena e o falar em línguas. A família de minha madrasta incluía pentecostais e cristãos reformados. Embora eles nunca discutiram abertamente sobre questões teológicas, me lembro bem que ambos os lados da família olhavam com uma certa desconfiança para a teologia do outro. Meus parentes da Igreja Reformada Cristã do norte de Iowa não estavam tão seguros sobre o emocionalismo e a ênfase no livre-arbítrio entre aqueles de nós que sustentávamos e praticávamos o Pentecostalismo. Meus pais, tias e tios pentecostais – muitos deles pastores e missionários – claramente se admiravam de como calvinistas ferrenhos podiam ser cristãos evangélicos. E todavia todos amavam e aceitavam um ao outro apesar de suas diferenças teológicas.

No colégio da Bíblia, fui doutrinado contra a teologia reformada. A maioria de meus professores pentecostais e muitos dos oradores convidados nas capelas e assembléias ferventemente se opunham não apenas à eleição incondicional e à graça irresistível (a expiação limitada não valia nem a pena debater!) mas também à segurança eterna. Quando o evangelista pentecostal Jimmy Swaggart publicamente declarou que o Calvinismo é uma “heresia,” ele estava apenas tornando público o que muitos Holiness-pentecostais pensavam e ensinavam mais discretamente por anos.

Mas algo continuava incomodando minha mente, me fazendo duvidar da imagem extremamente negativa da teologia reformada que me passavam no colégio da Bíblia. Alguns de nossos livros escolares eram escritos por estudiosos calvinistas evangélicos. Um de nossos livros escolares era uma coleção de sermões de Charles Spurgeon. Enquanto no colégio da Bíblia, comecei a ler a revista Eternity e me apaixonei pelo grande professor presbiteriano evangélico Donald Grey Barnhouse – um pacífico calvinista cujos escritos também exigiam que lêssemos. A Eternity abriu para mim o evangelicalismo tolerante que incluía tanto arminianos quanto calvinistas. E então havia meus parentes reformados cristãos, cujas vidas e testemunhos eram tão apaixonadamente evangélicos quanto qualquer pregador zeloso completo.

Um ponto crítico em minha peregrinação espiritual e teológica aconteceu em um funeral. O pastor reformado cristão da tia Margaret, em Kanawha, Iowa, pregava um dos sermões mais evangélicos que eu já tinha ouvido. Ele desafiou todos os presentes a dar suas vidas a Jesus Cristo assim como Margaret tinha feito. A discrepância entre fé e prática finalmente irrompeu-se numa rebelião completa contra a polêmica anti-calvinista que eu tinha ouvido de líderes e professores pentecostais. Enquanto eu não podia concordar com todos os cinco pontos da TULIP calvinista – especialmente a eleição incondicional, a expiação limitada e a graça irresistível – eu sabia que a “barraca” do Cristianismo evangélico autêntico era maior e mais ampla do que eu tinha sido levado a acreditar. Essa convicção se fortaleceu enquanto bebia intensamente das fontes de teologia reformada evangélica por todos os meus estudos no seminário e na universidade.

Enquanto conservava minhas crenças arminianas, minha mente evangélica se expandiu e se aprofundou enquanto lia teólogos reformados como G. C. Berkouwer, Bernard Ramm, Donald Bloesch, J. I. Packer e Francis Schaeffer. Eles me mostraram novas dimensões das doutrinas de Deus e da salvação que estava faltando ou tinha sido obscurecida no Arminianismo de minha juventude e início de minha educação teológica: a diversidade misteriosa, santa de Deus; a soberania grandiosa de Deus sobre a natureza e a história; a completa impotência da humanidade para realizar qualquer bondade ou até mesmo decidir aceitar os benefícios do sofrimento e morte de Cristo à parte da graça.

Tenho aprendido desde então que estes temas não estão faltando na teologia arminiana clássica, mas eu tive que aprendê-los de evangélicos reformados. Eu sai de meus estudos teológicos convencido de que minha teologia arminiana, embora fundamentalmente correta, carecia de profundidade e que ela poderia ser enriquecida pela herança do Cristianismo reformado. Também sai convencido de que a teologia reformada – particularmente em suas formas mais consistentes – carecia da observação maravilhosa do amor universal de Deus por suas criaturas humanas tão evidentes na melhor de minha própria tradição arminiana. Eu estava convencido de que a comunidade evangélica precisa tanto de George Whitefield quanto de John Wesley, e que seus herdeiros precisam um do outro para atingir a beleza do equilíbrio.

Por algum tempo no começo de minha carreira como teólogo evangélico, eu tentei viver como um pacífico arminiano trabalhando tranqüila e discretamente no mundo amplamente reformado da teologia evangélica prevalecente. Encontrei muitos companheiros arminianos ao longo do caminho que muitas vezes preferiam chamar-se a si mesmos de “moderadamente reformados” ou “calminianos,” e gradualmente foi ficando claro que para muitos – talvez a maioria – teólogos evangélicos fora dos círculos estritamente wesleyanos ou pentecostais, arminiano é uma palavra secreta para semipelagiano (a heresia da crença na iniciativa humana na salvação) se não “humanismo disfarçado.”

Um dia um amigo dirigiu-se a mim em particular e me perguntou com grande preocupação se meu Arminianismo poderia ser evidência de um humanismo disfarçado em meu pensamento. Era para mim a primeira salva de artilharia em uma nova batalha pela mente evangélica no qual eu me encontraria preso no meio. Tenho visto uma declaração de princípios de ortodoxia evangélica por auto-proclamados “evangélicos confessos” – um de meus professores do seminário entre eles – que coloca limites que me excluiria junto com outros arminianos da comunidade evangélica. (Estes incidentes me fazem lembrar, quando jovem, da minha própria tradição Holiness-Pentecostalismo que tendia a fazer o mesmo com a teologia calvinista.) Uma nova ocorrência de conflito e exclusão sobre esta questão não pode servir qualquer propósito útil senão para dividir, excluir e enfraquecer a frágil unidade evangélica tão cuidadosamente construída e preservada durante as últimas cinco décadas.

Estou firmemente convencido de que os evangélicos arminianos e reformados precisam uns dos outros ainda que não tenho esperança de um meio termo híbrido ou consistente emergindo deles. Se isso fosse possível, teria acontecido há muito tempo atrás. Mentes brilhantes e biblicamente comprometidas têm trabalhado nestas questões de interpretações por centenas de anos sem chegar a tal combinação consistente. Não vejo problema se alguns evangélicos querem afirmar algo chamado “Calminianismo” – o que eu somente posso reconhecer como uma mistura evangélica paradoxal e portanto sem firmeza. E eu percebo que muitos cristãos evangélicos não se identificam especificamente nem com o Arminianismo nem com o Calvinismo.

Mas alguém ou crê que a graça é resistível ou crê que ela não é. Não pode ser ambos da mesma maneira ao mesmo tempo. Alguém ou crê que a eleição – um conceito completamente bíblico – é incondicional ou não. Não pode ser ambos da mesma maneira ao mesmo tempo. Alguém ou crê que a providência divina sobre a natureza e a história é meticulosa e absoluta ou não. Em algumas destas questões teológicas cruciais, sobre as quais a Bíblia fala freqüentemente, alguém deve escolher um caminho ou o outro, e infelizmente, ou a Escritura não é inteiramente clara ou nossas mentes estão tão obscurecidas pela finitude e pela queda para chegar a uma resposta definitiva que possa ser imposta como a única possível interpretação para todos os que crêem na Bíblia.

Não temos escolha

Alguns de nós não podem deixar de ser arminianos porque quando lemos a Bíblia vemos como seu tema predominante o amor universal de Deus e seu desejo pela salvação de todos e pela inclusão de todas as pessoas em seu reino. Não o “humanismo disfarçado,” mas passagens como 1Tm 2.4; 2Pe 3.9, e Ez 33.11 (para não mencionar Jo 3.16, 17!) nos convence de que Deus não exclui ninguém de seu amor e comunhão eterna por alguma preordenação secreta e controle misterioso. Não a filosofia moderna, mas passagens como Lc 6.47 e 9.24, Act 7.51 e Ap 22.7 nos convence de que aos humanos são dados o tremendo dom da liberdade para aceitar ou resistir a graça salvadora de Deus e o dom do Espírito Santo. Nada disso, entretanto, significa limitação da soberania de Deus ou um ganho meritório da salvação pelo esforço humano.

Nós arminianos clássicos – nem todo arminiano é um arminiano clássico – cremos que Deus poderia controlar tudo mas escolhe estar no comando ao invés de controlar tudo a todo instante. A auto-limitação de Deus não impugna a majestade e a soberania de Deus.

Também acreditamos com Jacob Arminius e John Wesley que a graça preveniente é a única base para a livre aceitação da graça salvadora de Deus. Sem ser anteriormente despertado, chamado e capacitado, todos os humanos são pecadores demais para escolher livremente aceitar a oferta de Deus da graça salvadora. Em nossa opinião, que a salvação é aceita livremente não invalida sua natureza como uma completa dádiva. Por compreender e fielmente comunicar o tema revelacional do amor e da graça universal de Deus, os arminianos devem ser elogiados e estimados.

Alguns evangélicos não podem deixar de ser reformados e calvinistas porque, quando lêem a Bíblia, eles vêem seu tema predominante como a majestade transcendente, o poder e o controle soberano de Deus. O exemplo clássico de Romanos 9-11 é prova suficiente para eles que a providência é absoluta e meticulosa e que a eleição é incondicional e a graça é sempre irresistível. Eles acham os mesmos temas e doutrinas ecoando por toda a Escritura, incluindo Isaías 6, Am 3.6 e 4.13, João 17 e Efésios 1.

Além disso, se a salvação é verdadeiramente um dom gratuito como Paulo ensina em Ef 2.8-10, de forma que ninguém que é salvo pode possivelmente se gabar, então, os calvinistas afirmam, ela deve ser dada à parte de qualquer atividade ou cooperação do lado do pecador para recebê-la. De outra forma, a pessoa redimida poderia gabar-se. O padrão do testemunho bíblico para Deus e seu plano providencial como percebido pelos cristãos reformados os força a reconhecer e confessar a preordenação incondicional de todas as coisas sem limitação ou exceção. Por compreender e fielmente comunicar o tema revelacional da grandeza de Deus e da dependência humana, os calvinistas devem ser elogiados e estimados.

Ainda que estes dois grupos da comunidade evangélica não podem concordar – e parece improvável que qualquer um deles alguma vez persuadirá todos os outros a “converter” para o seu ponto de vista – eles podem e devem aceitar um ao outro como irmãos e irmãs em Cristo e reconhecer seus laços evangélicos comuns. Esta tem sido uma das forças da aliança evangélica do mundo pós-segunda guerra mundial. Para o bem maior do reino de Deus, cristãos biblicamente comprometidos, centralizados em Cristo, têm trabalhado juntos num espírito de respeito e aceitação mútuos para a propagação do evangelho e para o alívio do sofrimento humano apesar das diferenças de interpretação das doutrinas da eleição e providência. Seus inimigos comuns da acomodação ao secularismo e da flagrante heresia dentro das denominações reconhecidas têm fortalecido seu foco em sua crença comum na autoridade da Escritura, divindade de Cristo, salvação pela graça apenas, por meio da fé apenas, e outras grandes verdades da Bíblia e da fé cristã histórica. O espírito semelhante a Cristo do amor e da aceitação pacífica das diferenças de opinião sobre questões secundárias têm grandemente acentuado a influência desta aliança evangélica na sociedade.

Cada vez mais acusações imoderadas de quase heresia dentro da aliança evangélica sobre questões que concordamos em discordar pacificamente pode simplesmente minar e enfraquecer seu testemunho. Ao invés de dizer, “Vejam como eles amam uns aos outros!”, os não-evangélicos dirão, “Vejam como eles brigam e disputam entre si!” Quem pode culpá-los?

A verdade importa, mas nem toda verdade importa igualmente. Algumas coisas nunca saberemos com certeza até que as lentes escurecidas sejam removidas e todos veremos “face a face.” Nesse meio tempo, precisamos aprender como respeitar e apreciar um ao outro em humildade enquanto defendendo nossas próprias interpretações preferidas dos questões bíblicas debatíveis sobre a soberania divina, a eleição, o livre-arbítrio e a resistibilidade da graça.

Para esse fim eu desafio meus companheiros arminianos evangélicos a fazer como tenho feito: Bebam intensamente das fontes do pensamento evangélico reformado e elogiem os cristãos calvinistas por sua compreensão da glória de Deus e da completa graciosidade da salvação. Admirem e busquem imitar seu amor pelo pensamento cristão integrante e sua paixão por transformar a cultura. Evitem estereótipos e caricaturas do Calvinismo, pois eles não fazem juz à sua riqueza e profundidade. Todos os evangélicos devem à herança de Calvino, John Knox, Edwards, Whitefield, Spurgeon e Schaeffer.

A meus colegas evangélicos calvinistas, eu convido a dar a nós arminianos o benefício da dúvida: Ainda que vocês não possam ver como podemos entender Deus como “no comando” mas não “no controle” (soberano mas não todo-determinativo), entendam e aceitem que adoramos a Deus como majestoso, todo-poderoso e misterioso em beleza e poder. Percebam, ainda que não possam inteiramente entender, que nós arminianos afirmamos a salvação como uma dádiva completa da graça imerecida, ainda que ela deve ser aceita livremente. Leiam Arminius, Wesley, Miley, Dale Moody, Grider, Dunning e Oden. Todos afirmam sobre bases bíblicas que a eleição é condicional e a graça resistível, e todavia que a justificação é pela graça apenas por meio da fé apenas, livre, completa e imerecida.

Desde esse dia, no funeral da tia Margaret, tenho me associado com vários evangélicos reformados e aprendido a apreciar tanto eles como sua teologia ainda que permaneço convencido de minha própria perspectiva tanto biblicamente quanto logicamente. Tudo que eu peço é que eles retribuam a gentileza e aceitam aqueles de nós que somos seus irmãos e irmãs evangélicos na fé apesar de sua própria convicção da superioridade de sua teologia.

Certamente podemos aprender a trabalhar e testemunhar e adorar juntos novamente como fizemos no passado. Até John Wesley e seu companheiro calvinista George Whitefield refizeram sua amizade antes que morreram. Wesley pregou no funeral de Whitefield. Foi tudo para a glória de Deus e seu reino eterno que ele fez.

Fonte: Roger E. Olson (Christianity Today, 6 de setembro de 1999)
Tradução: Paulo Cesar Antunes

Roger E. Olson, editor conselheiro da Christianity Today, é autor de A História da Teologia Cristã (Editora Vida, 2000). Artigos Relacionados

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A auto-estima e os cristãos



Crianças e adultos precisam realmente de auto-estima? A baixa auto-estima conduz a sérios problemas na vida? Os pais deveriam se esforçar para desenvolver a auto-estima em seus filhos? A Bíblia incentiva a auto-estima? Muitos cristãos têm suposições sobre este assunto; mas, o que diz a Bíblia? O que dizem as pesquisas?

A gênese da auto-estima

O movimento da auto-estima tem seus fundamentos mais recentes na psicologia clínica, isto é, nas teorias da personalidade elaboradas por Wiliam James, Alfred Adler, Erich Fromm, Abraham Maslow e Carl Rogers, cujos seguidores popularizaram o movimento. Contudo, as raízes do movimento da auto-estima retrocedem aos primórdios da história humana.

Tudo começou no terceiro capítulo de Gênesis. Inicialmente, Adão e Eva tinham consciência de Deus, consciência um do outro, das coisas à sua volta e não de si próprios. A percepção de si mesmos era incidental e secundária na sua focalização em Deus e um no outro. Adão compreendia que Eva era osso dos seus ossos e carne de sua carne (comp. Gn 2.23), mas não estava consciente de si do mesmo modo que seus descendentes seriam. O ego não era problema até a queda.

Comer da árvore do conhecimento do bem e do mal não trouxe a sabedoria divina. Resultou, sim, em culpa, medo e na separação de Deus. Assim, quando Adão e Eva ouviram que Deus se aproximava, esconderam-se entre as árvores. Mas Deus os viu e perguntou: "Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?" (Gn 3.11).

O ego pecaminoso

Adão e Eva responderam dando-nos o primeiro exemplo de autojustificação. Primeiro Adão culpou Eva e Deus, e então Eva culpou a serpente. O fruto do conhecimento do bem e do mal gerou o ego pecaminoso representado pelo amor-próprio, auto-estima, auto-aceitação, autojustificação, hipocrisia, auto-realização, autodifamação, autopiedade, e outras formas de autofocalização e egocentrismo.

Desse modo, o atual movimento da auto-etc. tem suas raízes no pecado de Adão e Eva. Através dos séculos, a humanidade continua a se deleitar na árvore do conhecimento do bem e do mal, que tem disseminado seus ramos do saber mundano, incluindo as vãs filosofias humanas e, mais recentemente, as filosofias "científicas" e a metafísica da psicologia moderna.

As fórmulas religiosas do valor-próprio, do amor-próprio e da auto-aceitação escorrem do tubo da televisão, fluem pelas ondas do rádio e seduzem através da publicidade. Do berço ao túmulo, os defensores do ego prometem a cura de todos os males da sociedade por meio de doses de auto-estima, valor-próprio, auto-aceitação e amor-próprio. E todo mundo, ou quase todos, repetem o refrão: "Você só precisa amar e aceitar a si próprio como você é. Você precisa se perdoar", e: "Eu só tenho de aceitar-me como sou. Eu mereço. Eu sou uma pessoa digna de amor, de valorização, de perdão."



Do berço ao túmulo, os defensores do ego prometem a cura de todos os males da sociedade por meio de doses de auto-estima, valor-próprio, auto-aceitação e amor-próprio.

A resposta cristã para o mundo

Como o cristão deve combater o pensamento do mundo, que exalta o ego e o coloca no centro como a essência da vida? Como o cristão deve ser fiel à ordem de nosso Senhor, de estar no mundo mas não ser do mundo? Ele pode adotar e adaptar-se à filosofia/psicologia popular de sua cultura, ou ele deve manter-se como quem foi separado por Deus e encarar sua cultura à luz da Palavra? Jesus disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mt 11.28-30).

Este é um convite para deixarmos o nosso próprio caminho, submetendo-nos a um jugo de humildade e servidão – com ênfase no jugo – num relacionamento de aprendizado e vida. Jesus fez Seu convite ao discipulado com palavras diferentes, mas para o mesmo relacionamento e o mesmo objetivo, quando disse: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á" (Mt 16.24-25).

Nenhum mandamento para amar a si próprio

Jesus não nos ordena que amemos a nós mesmos, mas que amemos a Deus e ao próximo. A Bíblia apresenta uma base para o amor completamente diferente daquilo que a psicologia humanista anuncia. Ao invés de promover o amor-próprio como a base para amarmos os outros, a Bíblia diz que o amor de Deus é a fonte verdadeira. O amor humano é misturado com o amor-próprio e, em última análise, pode estar em busca de seus próprios interesses. Mas o amor de Deus entrega a si mesmo. Portanto, quando Jesus convida Seus discípulos a negarem a si próprios e tomarem sobre si o Seu jugo e a Sua cruz, Ele os conclama a um amor que doa a si mesmo, não a um amor que satisfaz a si mesmo. Até o advento da psicologia humanista e de sua intensa influência na igreja, os cristãos geralmente consideravam a auto-estima como uma atitude pecaminosa.

Apesar da Bíblia não ensinar o amor-próprio, a auto-estima, o valor-próprio ou a auto-realização como virtudes, recursos ou objetivos, um grande número de cristãos de hoje têm sido enganado pelos ensinos pró-ego da psicologia humanista. Ao invés de resistirem à sedução do mundo, eles se submetem à cultura do mundo. Não somente eles não resistem à gigantesca onda do egocentrismo; como estão na crista da onda da auto-estima, da auto-aceitação e do amor-próprio. Na área do ego, dificilmente se pode perceber a diferença entre o cristão e o não-cristão, exceto que o cristão afirma ser Deus a fonte principal de sua auto-estima, auto-aceitação, auto-valorização e amor-próprio.

Através de slogans, bordões e textos bíblicos deturpados, muitos crentes professos seguem a onda existencial da psicologia humanista e estabelecem seu próprio sistema motivacional. Desse modo, qualquer crítica contra os ensinamentos do valor-próprio, amor-próprio e auto-estima é considerada, por isso mesmo, como prova de que se deseja que as pessoas sejam infelizes. Além do mais, qualquer crítica contra o movimento da auto-estima é vista como um perigo para a sociedade, já que a auto-estima é considerada como panacéia para seus males. Então se alguém, na igreja, não apóia completamente a teologia da auto-estima, é acusado de promover uma teologia desprezível.

Se há algo que o mundo e muitos na igreja têm em comum nos dias atuais, é a psicologia da auto-estima. Embora cristãos professos possam discordar em algumas das nuanças da auto-estima, auto-valorização, auto-aceitação, e mesmo em alguns dos pontos mais delicados de suas definições e de como elas são alcançadas, muitos têm reunido forças contra o que acreditam ser um inimigo terrível – a baixa auto-estima. Contudo, mesmo o mundo ainda não consegue justificar o incentivo da alta auto-estima pelos seus próprios métodos de pesquisa.



Este é um convite para deixarmos o nosso próprio caminho.

As pesquisas não apresentam justificativas em favor da auto-estima

Há alguns anos, o legislativo da Califórnia aprovou o projeto de criação da "Força-Tarefa Californiana para Desenvolver a Auto-Estima e a Responsabilidade Social e Pessoal". O legislativo reservou para o projeto 245.000 dólares ao ano durante três anos, num total de 735.000 dólares. O duplo título da Força-Tarefa foi realmente muito pretencioso. Ninguém nunca conseguiu demonstrar que o estímulo à auto-estima está, de algum modo, ligado com a responsabilidade social e pessoal. Nem se provou que todos aqueles que demonstram responsabilidade social e pessoal possuem auto-estima elevada. Na verdade a auto-estima e a responsabilidade social e pessoal têm relação negativa e não positiva.

A Declaração do Objetivo da Força-Tarefa foi a seguinte:

Procurar determinar se a auto-estima e a responsabilidade social e pessoal são as chaves para descobrir os segredos do desenvolvimento humano sadio, de modo que consigamos atingir as causas e desenvolver soluções eficazes para os principais problemas sociais, fornecendo a cada californiano as mais recentes experiências e práticas quanto à importância da auto-estima e da responsabilidade social e pessoal.
(1)

A Força-Tarefa acreditava que apreciar a si mesmo e fortalecer a auto-estima reduziria "dramaticamente os níveis epidêmicos dos problemas sociais que enfrentamos atualmente".(2)



Apesar da Bíblia não ensinar o amor-próprio, a auto-estima, o valor-próprio ou a auto-realização como virtudes, recursos ou objetivos, um grande número de cristãos de hoje têm sido enganado pelos ensinos pró-ego da psicologia humanista.

Há uma relação positiva entre a alta ou baixa auto-estima e a responsabilidade social e pessoal?

Com o objetivo de pesquisar esta relação, a Força-Tarefa estadual contratou oito professores da Universidade da Califórnia para examinar a pesquisa sobre a auto-estima e sua relação com as seis áreas seguintes:

1.Crime, violência e reincidência;
2.Abuso de drogas e álcool;
3.Dependência da Previdência Social;
4.Gravidez na adolescência;
5.Abusos sofridos por crianças e esposas;
6.Deficiência infantil no aprendizado escolar.

Sete dos professores pesquisaram as áreas acima e o oitavo resumiu os resultados, que foram publicados num livro intitulado The Social Importance of Self-Esteem (A Importância Social da Auto-Estima).(3) Esta pesquisa confirmou a relação entre a auto-estima e os problemas sociais?

David L. Kirk, colunista do jornal San Francisco Examiner, disse rudemente:

Esse... volume erudito, The Social Importance of Self-Esteem, resume todas as pesquisas sobre o assunto numa ridícula abordagem maçante de cientistas pretensiosos. Economize seus 40 dólares que o livro custa e conclua: Há pouquíssima evidência de que a auto-estima seja a causa de nossos males sociais. (ênfase acrescentada.)

Mesmo tendo procurado uma conexão entre a baixa auto-estima e o comportamento problemático, eles não puderam encontrar uma relação de causa e efeito. (Contudo, estudos mais recentes indicam uma clara relação entre o comportamento violento e a alta auto-estima.) Apesar disso, a fé na auto-estima não morre, e as escolas continuam a trabalhar para elevar a auto-estima.

Pior do que a continuação nos ensinamentos da auto-estima no mundo é a confiança que cristãos professos continuam a depositar nos ensinamentos da autovalorização e do amor a si próprios. Assim, o movimento secular da auto-estima não é um ataque frontal contra a Bíblia com linhas de batalha claramente demarcadas. Ao invés disso, é habilidosamente subversivo, e realmente não é obra de carne e sangue, mas dos principados e potestades, dos dominadores deste mundo tenebroso, das forças espirituais do mal nas regiões celestes, como Paulo diz em Efésios 6.12. Lamentável é que muitos cristãos não estão alertas para os perigos. Muitos mais do que podemos enumerar estão sendo sutilmente enganados por um outro evangelho: o evangelho do ego.

O amor bíblico

Jesus convida os Seus para um relacionamento de amor com Ele e de um para com o outro. A alegria dos Seus deve ser encontrada nEle, não em si mesmos. O amor vem de Seu amor por eles. Assim o amor deles, de um para o outro, não vem do amor-próprio e da auto-estima, tampouco aumenta a auto-estima. A ênfase está na comunhão, na frutificação e na prontidão para ser rejeitado pelo mundo. A identificação do crente está em Jesus ao ponto de sofrer e segui-lO até a cruz. Somente através da semântica forçada, da lógica violentada e da exegese ultrajada alguém pode querer demonstrar que a auto-estima é bíblica ou mesmo parte da tradição ou do ensino da igreja.

O foco do amor na Bíblia é para cima e para fora ao invés de ser para dentro. O amor é tanto uma atitude como uma ação de uma pessoa para com a outra. Embora o amor possa incluir sentimentos e emoções, ele é essencialmente uma ação determinada pela vontade para a glória de Deus e para o bem dos outros. Assim, quando Jesus disse: "Amarás, pois o Senhor, teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12.30), Ele quis explicar que todo o nosso ser deve estar comprometido para amar e, portanto, agradar a Deus. O amor a Deus é expresso com um coração agradecido e determinado a fazer o que agrada a Ele de acordo com o que está revelado na Bíblia. Não se trata de um tipo de obediência mecânica, mas de um desejo para conformar-se à Sua graciosa vontade e de concordar que Deus é a fonte e o padrão para tudo que é certo e bom.

A segunda ordem é uma extensão ou expressão da primeira: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mc 12.31). João acrescentou detalhes a respeito. Ele descreveu a seqüência do amor. Em contraste com os mestres do amor-próprio, que dizem que as pessoas não podem amar a Deus e aos outros até que amem a si mesmas, João diz que o amor começa em Deus e, então, se estende aos outros: "Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão" (1 Jo 4.19-21).



Deus nos amou primeiro, o que nos capacita a amá-lO, o que se expressa, então, em amar uns aos outros.

Deus nos amou primeiro, o que nos capacita a amá-lO, o que se expressa, então, em amar uns aos outros.

Desde o primeiro fôlego de Adão, os homens foram destinados a viver em relacionamento com Deus, e não como egos autônomos. A Bíblia inteira está apoiada nesse relacionamento, porque após responder ao fariseu, afirmando que o grande mandamento é amar a Deus e o segundo é amar ao próximo como a si mesmo, Jesus acrescentou: "Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas " (Mt 22.40). Jesus veio para nos livrar do ego e para restabelecer esse relacionamento de amor para o qual fomos criados. Durante séculos, foram escritos livros sobre amar a Deus e uns aos outros. Contudo, atualmente, cada vez mais, a igreja está sendo inundada por literatura ensinando-nos como amar-nos melhor, nos estimarmos mais, aceitar-nos como somos e desenvolvermos o nosso próprio valor. (Martin e Deidre Bobgan BDM 12/97 – extraído e/ou adaptado das edições 3-4 e 5-6/96 da PsychoHeresy Awareness Letter - http://www.chamada.com.br).

Notas:

1.California Task Force to Promote Self-Esteem and Personal and Social Responsibility. "1987 Annual Report to the Governor and the Legislature", p.V.
2.Andrew M. Mecca, "Chairman’s Report". Esteem, Vol.2, nº 1, fevereiro de 1988, p.1.
3.Andrew M. Mecca, Neil J. Smelser e John Vasconcellos, eds. The Social Importance of Self-Esteem. Berkeley: University of California Press, 1989.

Fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/auto-estima.html

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O cristão e o relativismo



Primeiramente devemos saber o que é relativismo. Segundo o dicionário Aurélio seria: “teoria filosófica que se baseia na relatividade do conhecimento.” Já ouvimos por diversas vezes frases como esta: “Ah isto é relativo!”. Ou seja, as pessoas deste século são em grande parte relativistas, acreditam que não existem verdades absolutas. Os romanos ficavam encolerizados diante da simples menção de que Cristo estava acima dos outros deuses – ou, ainda, de que nenhum outro deus sequer existia. Para eles, era insuportável, tanto do ponto de vista político quanto religioso, a insistência cristã de haver um só redentor legítimo disposto a vir salvar a humanidade.

Os romanos eram tolerantes com todos, menos com os intolerantes. Hoje as pessoas dizem que devemos ser tolerantes com as outras, principalmente se o assunto for moral, ética ou religião. E o pior de tudo isto é que o relativismo atingiu milhões de cristãos evangélicos. Hoje conversamos com evangélicos que acham que defender a fé cristã ante os algozes seria uma perda de tempo. Estudar doutrinas fundamentais – “Ah não, é muito entediante” – dizem alguns, estudar apologia – “Por favor pare com isto, você acha que eu vou perder meu tempo estudando o que os outros pensam sobre Deus e Cristo, me faça o favor”, e assim milhões de evangélicos estão vulneráveis.

Ao lerem um artigo em que alguém ataca a fé cristã através de jornais, revistas, rádio, internet ou mesmo na televisão, ao invés de procurarmos responder a estas investidas, pensam que seria uma grande perda de tempo que não levaria a nada. Acham que o cristão deve pensar em outras coisas, como em musicas, retiros se esquecendo do evangelismo, missões, vida cristã, defesa da fé que são mandamentos cristãos. Hoje defender a fé é perda de tempo para muitos líderes cristãos, e não se incomodam em perdem cada dia mais membros para as seitas, pois milhares de lideres, lamentavelmente se tornaram relativistas.

E você também é relativista?

O conhecido Pr John MacArthur Jr. certa vez alertou sobre a apostasia:

“Os cristãos de hoje tendem a comprometer o ensino e o padrão bíblico. Pressionados pelo movimento feminista, alguns cristãos reinterpretam o ensino bíblico sobre o papel da mulher. Outros reinterpretam os primeiros capítulos de Gênesis numa tentativa fútil de harmonizar o relato bíblico da Criação com a teoria pseudocientífica da evolução. Alguns insistem em que a Bíblia não ensina todos os princípios necessários para resolvermos os problemas da vida, e recorrem a psicologia. A fé que “uma vez por todas foi entregue aos santos” ( Jd 3) muitas vezes é transformada num cata-vento: gira com qualquer vento de mudança. Qual é a fonte suprema de autoridade em sua vida? Quando se depara com um conflito entre o ensino bíblico e uma idéia contemporânea, que você faz? Reinterpreta a Bíblia, ou rejeita a idéia nova? Você esta disposto a defender a Palavra de Deus? Estude o Salmo 19.7-11 e veja como Deus descreve sua Palavra e determine apoiar-se nela (Homens e mulheres – John MacArthur, Jr – pg 198).

Alguns estão mais preocupados em como agradar o povo de Deus e trazer entretenimento para a Igreja. Você percebeu o quanto o ensino escatológico está cada vez mais ausente dos púlpitos? Sermões sobre a existência do inferno e em como ter uma vida de renuncia é algo do passado para muitas igrejas ditas cristãs. Sobe a influência do racionalismo e da teologia da prosperidade, muitos cristãos são tentados a viver confortavelmente nesta terra. Muitos ministros preferem trazer apenas sermões que agradem o povo e não mensagens que confrontam a igreja contra o viver hipócrita.

O que é a igreja hoje? Um negócio? Um espetáculo? Um clube social? Um pronto-socorro espiritual? Qual é o verdadeiro sentido da Igreja hoje? O crescimento numérico das igrejas significa que o Reino de Deus está avançando? E qual é o lugar dos dons espirituais no cotidiano da igreja? Sua igreja desenvolve um ministério com as viúvas? Ela cumpre sua responsabilidade bíblica de cuidar das mulheres piedosas que não tem recursos próprios? ( Tg 1.27). Se a igreja não tem, você poderia orar junto com o pastor e ser o instrumento para que tal ministério seja iniciado. Enfim, será que nossos interesses tem sido os interesses de Deus para com sua Igreja?

Você obedece todos os mandamentos, ou só aqueles que coincidem com seus desejos? Lembre-se: Cristo é o seu Senhor e Ele exige obediência completa. Antes de ascender aos céus, Jesus ordenou aos seus discípulos: “Ide… fazei discípulos de todas as nações.” (Mt 28.19).


Assim ele estabeleceu a evangelização com prioridade número um para a Igreja. Muitos cristãos, porém, agem como se a responsabilidade da evangelização fosse do pastor ou do departamento de evangelismo da Igreja. E quanto a você? Está preocupado com as almas perdidas, ou suas preocupações são com os negócios desta vida passageira? Quando foi a última vez que falou de Jesus para um não cristão? Será que ao ler este folheto não poderá chegar à conclusão que você está se tornando um relativista, ou que seu amor pela obra do Senhor está esfriando? A Bíblia diz que “todas” as virgens cochilaram (Mt 25.5) e está é a situação hoje de muitos lideres e cristãos que estão dormindo e as almas se perdendo para o inferno sem retorno. Paulo diz que um líder deveria ser apto “tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes” Tt 1.9. Para os evangélicos em geral, todos deveriam defender as Escrituras (1Pe 3.15) e amar a Deus com todo o seu pensamento (Mt 22.37). Deus não estabelece nenhum prêmio para a ignorância.

Você visitaria um médico que não tivesse estudado a respeito das doenças? Poderia confiar nele? Mas existem milhões de cristãos que estão confiando a sua vida eterna a ensinamentos nada ortodoxos ensinados por inúmeros lideres leigos. Estudar a defesa da fé deveria ser uma das prioridades de todo cristão pois é mandamento bíblico, e aproximar-se das falsas filosofias do mundo para estudá-las, do mesmo modo que um pesquisador médico se aproxima do vírus HIV. Ele deve estudá-las de modo objetivo e cuidadoso, com a finalidade de descobrir o que há de errado com elas.

Outrossim, todo líder pela Bíblia deveria ser um mestre nas Escrituras (Ef 4.11; Tg 3.1). Infelizmente observo a igreja atual e me torno pessimista, para mim a Igreja não irá melhorar sua conduta, pois é Bíblico que o amor de muitos esfriaria (Mt 24.12). Mas o que está em jogo é ser um cristão Bíblico em todo o seu viver. O mundo se afastará cada dia mais de Deus através do pecado e do relativismo, mas você aceitará a ideologia filosófica do relativismo como seu modo de vida?

Irá continuar aceitando todo modismo evangélico que surgir, doutrinas estranhas e tudo que lhe oferecerem como uma nova verdade? Cuidado. Somente através do estudo sistemático das Escrituras, você poderá livrar sua mente de se tornar mais um relativista. A apostasia está ai, escapa-te por tua própria vida (Col. 2.4).

Fonte: Texto de Marcos Batista Lopez. Publicado no site NAPEC - Apologética Cristã
(www.napec.net)