quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A PRIMEIRA POLÊMICA CRISTÃ E A HUMILDADE DE PEDRO



Texto de José Reis Chaves

O Cristianismo surgiu entre os Apóstolos e primeiros discípulos de Jesus como sendo uma espécie de seita judaica, pois, naquela época, em sua maioria esmagadora, quase todos os habitantes da Palestina eram judeus, inclusive o próprio Mestre dos Mestres.
Destarte, foi inevitável a sua judaização, mormente quando ele começou a ser instituído. E é sobre esse tema que dedicamos estas linhas, embora devamos reconhecer que houve também nele outras influências religiosas - como as há até hoje -, notadamente as oriundas das Culturas e Filosofias Grega, Zoroastrista e Maniqueísta.

Dos grandes líderes dos primórdios do Cristianismo, destacam-se Pedro e Paulo. Este, mais afoito, já que era dotado de uma inteligência de gênio, assimilou mais de pronto e mais a fundo a Mensagem Evangélica de Jesus, enquanto que aquele, um simples pescador, além de ser muito humilde - não tanto de recursos materiais, mas, de virtude -, parece ter sido tomado de uma certa dificuldade para se libertar, totalmente e de imediato, das Leis Mosaicas.

Assim é que, por ser a prática ritualística da Circuncisão uma das características fundamentais do Judaísmo - e ainda hoje o é - , não deu outra na conversão dos judeus ao ainda mal estruturado e frágil Cristianismo: uma grande parte dos judeus recém-convertidos a ele, por estar ainda muito apegada às tradições da Lei Antiga, entendeu e passou a ensinar que quem não era judeu e, portanto, não circuncidado, deveria submeter-se, primeiro, a esse importante ritual judeu, como sendo uma espécie de um tirocínio, antes de se converter ao Cristianismo.

Havia, pois, dois blocos de cristãos: o dos apegados à exigência incondicional da Circuncisão, e o dos que a consideravam dispensável à conversão ao Cristianismo. E essa polêmica passou a atingir, principalmente, os gentios (povos pagãos, ou não judeus), que não eram, pois, circuncidados, tornando-se um problema sério para esses povos abraçarem a Nova Doutrina, já que simpatizavam com ela, mas não aceitavam a Circuncisão.

E esse problema passou a ser sentido bem de perto por Paulo, o Apóstolo dos Gentios, porquanto era ele o líder cristão dos pagãos, isto é, daqueles povos de nações distantes da Palestina, o que vale dizer daqueles povos completamente desligados da influência dos costumes judaicos, entre eles, o da Circuncisão.
E Paulo não teve dúvidas. Apesar de ter até circuncidado Timóteo – o que fez para não escandalizar judeus gregos, segundo ele mesmo no-lo afirma -, passou quase a desmoralizar a Circuncisão, a qual para ele era simplesmente uma mudança exterior, material, enquanto que os cristãos deveriam primar por uma mudança interior, do Eu Espiritual.

E tanto Paulo criticava a Circuncisão, como criticava os seus adeptos. E, talvez, tenha-lhe faltado até um pouco de humildade, o que, conforme à nossa menção acima, era uma virtude especial de Pedro.

E o certo é que São Paulo, de tanto esbravejar, assim, contra a Circuncisão, e de tanto mostrar a sua inutilidade, ao mesmo tempo em que criticava seus defensores, acabou mostrando-nos que São Pedro liderava o bloco oposto a ele, ou seja, o dos circuncisos, sendo o pregador do Evangelho para eles, enquanto que ele, Paulo, o era dos incircuncisos Isso, que estamos afirmando, consta de Gálatas 2:7. É, pois, o próprio Paulo que nos fala desses dois blocos e dessas duas lideranças, exercidas na pregação do Evangelho, por ele e por Pedro, aos seus respectivos subordinados, isto é, os incircuncisos e os circuncisos.

E, quando destacamos a virtude da humildade de Pedro, temos um motivo para isso, pois tudo o que sabemos sobre essa polêmica envolvendo os cristãos daquele tempo, afeiçoados da Circuncisão e os que passaram a renegá-la, chegou-nos através da fala paulina encontrada em suas Epístolas e em Lucas, em Atos, já que o humilde Pedro não nos deixou registrada uma palavra, sequer, a favor da Circuncisão e dos seus correligionários, ou contra a Incircuncisão e os seus defensores liderados por Paulo. Mas este, como vimos, não poupou críticas a seus adversários.

Esse assunto sempre causou um certo mal-estar nos teólogos cristãos, que, geralmente, evitam fazer abordagem dele, pois ele nos mostra a fragilidade dos próprios dois grandes Apóstolos de Jesus, e que, no entanto, escreveram partes das mais importantes da Bíblia, ou mais precisamente, do Novo Testamento, fato esse que traz certas dúvidas para o cristão.

O Concílio de Jerusalém, em 49, teve por objetivo principal resolver essa polêmica. E, quando todos esperavam que Pedro, ao tomar a palavra, fizesse uma veemente condenação do bloco dos incircuncisos, nem aí a sua humildade deixou de vir novamente à tona, pois não mencionou uma só palavra sobre esse assunto. E esse seu virtuoso e respeitado silêncio serenou os ânimos.

Daí em diante, é verdade que ainda houve entreveros entre os dois blocos adversários, mas, aos poucos, prevaleceu o ponto de vista Paulino, graças à humildade de Pedro, sem a qual o Cristianismo ter-se-ia rachado ao meio, antes mesmo de acabar de ser instituído!

José Reis Chaves é escritor, palestrante, radialista e professor de Português e Literatura, formado na PUC-Minas.

3 comentários:

  1. Excelente artigo!
    No silêncio e na humildade de Pedro,a vitória do evangelho! Interessante que se destaque os acertos, deste apóstolo tão lembrado pelos erros.
    Temos muito que aprender com Pedro, vivemos num tempo que os homens preferem ficar com a "razão" do que com Jesus.
    Deus abençoe!
    Laudiceia Mendes

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  2. A paz do Senhor amado irmão.
    Parabéns pelo excelente espaço.
    Que Deus o abençoe.
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  3. O que eu aprendi com Pedro é que nos dias de hoje toda vez que temos a oportunidade de falarmos de JESUS para um pecador e não falamos estamos automaticamente negando a JESUS ,muitas vezez estamos sendo omissos e egoístas a não proclamar o evangelho ,já Paulo nos dá um exemplo claro de persistência , ousadia e santidade; obviamente Paulo também não foi perfeito pois perfeito é só ele o LEÃO da TRIBO DE JUDÁ!!!

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