quarta-feira, 20 de abril de 2011
As últimas horas de Jesus
Quase tudo o que se sabe sobre a vida de Jesus, seu legado e ensinamentos, foram resumidos nos evangelhos canônicos – escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João – cerca de 40 anos após a sua morte. Essencialmente, os discípulos contaram a mesma história, porém salientaram aspectos diferentes. Afinal, reconstituir uma trajetória como a de Jesus Cristo deve ter sido tarefa desafiadora.
Todavia, entre todos os relatos, há um momento que mereceu destaque especial. Trata-se da última semana do Mestre com o povo. Dias que antecederam as comemorações da Páscoa do judaísmo e ressignificaram esta festa, transformando-a no evento mais importante do mundo cristão. Hoje, quase 20 séculos depois, a arqueologia, antropologia, sociologia, história, medicina e demais áreas do conhecimento têm ajudado a preencher muitas lacunas culturais que não foram mencionadas pelos evangelistas.
ÚLTIMA VIAGEM DE JESUS
Conta a história que por volta do ano 30 (d.C.), Jesus, acompanhado por seus discípulos e uma multidão de peregrinos, viaja a Jerusalém para participar das celebrações da Páscoa no templo judaico. A cidade tinha cerca de 100 mil habitantes, mas nessa época chegava a abrigar 180 mil pessoas. Para o povo que O seguia, era apenas uma viagem de rotina, já que os palestinos costumavam visitar Jerusalém nessa época. Entretanto, Jesus sabia o sofrimento que havia de passar. Chegando ao local, uma semana antes de sua morte, foi direto a Betânia – um pequeno vilarejo localizado a três quilômetros de Jerusalém –, onde se hospedou na casa de Lázaro, Marta e Maria, seus melhores amigos. Participaria das programações no templo e diariamente retornaria a Betânia a fim de descansar. E assim sucedeu (veja tabela abaixo):
DOMINGO
Pela manhã, bem cedo, Jesus parte para Jerusalém, montado em um jumento, como previa o profeta Zacarias. Sua entrada nos portões da cidade é triunfante. Uma multidão O reverencia, abanando louros e palmeiras enquanto gritam: “Viva o profeta de Nazaré!”.
Ao chegar ao templo, uma cena bastante desagradável O impacta. Desde a esplanada, todo o local está infestado de ambulantes vendendo quinquilharias, negociantes e cambistas comercializando animais. Jesus fica indignado, perde a paciência, vira as mesas dos comerciantes, derruba cadeiras, abre gaiolas e grita: “Vocês fizeram da casa do meu Pai um covil de ladrões”.
SEGUNDA E TERÇA-FEIRA
Jesus retorna ao templo, onde discursa através de parábolas e debate com a elite sacerdotal judaica (fariseus e saduceus). Eles estavam irritados. A cena da expulsão dos negociantes ocorrida no dia anterior havia sido a gota d’água para que as autoridades judaicas, definitivamente, O considerassem uma ameaça, não apenas à situação econômica, mas ao bem-estar político do Estado Judeu que, na época, era dominado pelos romanos.
Mal-intencionados, preparam armadilhas para que Jesus tropece em suas opiniões. Porém, sem sucesso, não encontram em suas palavras razão para condená-lO.
QUARTA-FEIRA
A aflição aumenta ainda mais. Ao retornar ao templo, Jesus chora no Monte das Oliveiras e, diante de Jerusalém, lamenta a destruição que sobrevirá à cidade.
No templo, continua o debate com os seus adversários.
QUINTA-FEIRA
Passa a tarde com sua mãe.
Entre 18h e 23h30, Jesus celebra sua última ceia junto aos discípulos. Ali, depois de partir o pão e beber do cálice, diz: “Façam isso todas as vezes que comerdes e beberdes em memória de mim”. Nessa reunião, Cristo enfatiza os ensinamentos que deverão ser passados a toda a humanidade após a sua morte.
Por volta das 23h30, Jesus pede que os discípulos fiquem orando e se retira para o Jardim do Getsêmani a fim de orar a sós. Ele sabia que em cerca de 1 hora seria traído por Judas, um dos seus discípulos. Seu coração quase não pode suportar tamanho peso, então afirma: “Minha alma está cheia de tristeza até a morte”.
OBS.: Os evangelhos não tratam detalhadamente da cronologia. Portanto, o quadro é dedutivo.
O SOFRIMENTO NO GETSÊMANI
Havia dias em que Jesus experimentava a sensação de angústia, medo e tristeza. Mas esses sentimentos se intensificaram ainda mais, pouco antes de seu aprisionamento – possivelmente ocorrido por volta de 01h30 da madrugada de sexta-feira – no Jardim do Getsêmani.
De acordo com o relato do médico Lucas – o único evangelista que citou o fato –, naquele momento Jesus transpirava gotas de sangue. Um fenômeno raríssimo conhecido pela ciência como hematidrose e que, segundo o PhD. Alexander Metherell, doutor em Medicina pela Universidade de Miami, ocorre em casos de ansiedade extrema, quando a liberação de certas substâncias químicas ocasiona o rompimento dos vasos capilares das glândulas sudoríparas e faz com que a pele fique sensível a tal ponto de o sangue se misturar ao suor.
De acordo com o artigo “A morte física de Jesus”, escrito pelo médico americano William Edwards e colegas, “a perda sanguínea, provavelmente, foi pequena, no entanto, o ar frio da noite, misturado ao suor, era o suficiente para lhe causar calafrios”. O estudo científico foi publicado pelo JAMA (Jornal da Associação Médica dos Estados Unidos).
SEIS JULGAMENTOS FAJUTOS
Logo depois de ser preso, Jesus é encaminhado a uma série de julgamentos forjados. Possivelmente algemado, os soldados da guarda judaica O levam a presença de Anás, o sogro do sumo sacerdote Caifás – um cargo religioso cujo grau era considerado o mais elevado entre os israelitas. Para eles, era o representante de Deus na terra.
Algumas pessoas questionam esse fato. Afinal, por que os soldados levaram Jesus primeiramente a Anás, se era Caifás o sumo sacerdote no poder?
Paul Maier, professor de História Antiga da Western Michigan University e autor do livro Jesus, Verdade ou Mito?, responde a essa indagação: “Anás era o detentor do maior recorde de todos os tempos em matéria de nepotismo. Fez cinco de seus filhos se tornarem sumo sacerdotes e o título, no momento, pertencia a seu genro, José Caifás, porque ele o concedera”. Mesmo não sendo mais o sumo sacerdote, todos o respeitavam, tamanha a sua influência. Seu cargo era praticamente honorífico.
Paul Maier, professor de História Antiga da Western Michigan University e autor do livro Jesus, Verdade ou Mito?, revela porque os soldados levaram Jesus primeiramente a Anás, se era Caifás o sumo sacerdote no poder naquela época
Além disso, os fariseus sabiam: se Jesus fosse levado à presença de Anás, ele certamente induziria Caifás a condená-lO, já que ambos tinham participação nos lucros das vendas realizadas no templo, uma das atividades mais proeminentes e lucrativas da época. Ter uma banca na sinagoga era como ser proprietário de uma luxuosa loja em um shopping center. Como o sumo sacerdote era o administrador geral, todos os comerciantes deviam-lhe impostos.
Anás queria saber mais sobre a doutrina que o rapaz de Nazaré ensinava ao povo. Mas Jesus respondeu: “Para que perguntas a mim? Pergunte aos que me ouviram...”. E, considerando sua atitude um desrespeito para com a autoridade, um dos oficiais O esbofeteou.
A lei mosaica exigia que a acusação contra os malfeitores fosse feita por, no mínimo, duas testemunhas cujos depoimentos tivessem coerência. Além disso, a lei garantia que um réu jamais seria condenado horas antes de um sábado porque isso lhe impediria de solicitar recurso. Entretanto, mesmo sem nenhuma acusação coesa, o julgamento prosseguiu. Como já era esperado, Anás pediu aos soldados que levassem Jesus à presença de seu genro.
Poucos minutos depois, Jesus já está no palácio de Caifás, onde escribas, anciãos e sacerdotes O aguardavam para um novo interrogatório. Como não havia acusação coerente, o sumo sacerdote, possivelmente avisado da afronta do Mestre a seu sogro e indignado com o episódio da segunda-feira, passa a questioná-lO sobre sua identidade, supostamente messiânica.
Logo, eles O consideram blasfemo por deixar nas entrelinhas a mensagem de que era de fato o Rei dos judeus, um delito constituído no direito romano – lex de maiestate, lei anterior a Júlio César e a Augusto – que punia com morte a traição em relação ao Estado. Ao clarear do dia, agora diante do Sinédrio, Jesus é mais uma vez condenado.
Segundo o teólogo e escritor Josh McDowell, autor da obra As Evidências da Ressurreição de Cristo, havia duas cortes no Sinédrio. Uma composta por 23 membros especializados em julgar casos que envolvessem a pena capital e outra composta por 71membros, “um tribunal para casos que envolvessem o Chefe do Estado, o sumo sacerdote e quaisquer outras pessoas, por ofensas contra o Estado e o Templo”. McDowell diz ainda que o Sinédrio de 71 membros “podia deixar de julgar um caso que envolvesse a pena de morte, por isso é provável que Jesus tenha sido julgado pela corte menor”.
Como o Sinédrio não tinha poder legal para crucificá-lO, precisou encaminhá-lO a uma corte romana a fim de conseguir a liberação. Chamando a atenção para esse fato, o pastor e teólogo Acyr Raymann, professor da Universidade Luterana de São Leopoldo (RS), declara: “O Sinédrio tinha poder para matar Jesus, porém não por crucificação, mas por apedrejamento, por exemplo. No entanto, os fariseus não queriam assumir esta responsabilidade. Por isso, insistiram na crucificação. Só assim esse fardo estaria sobre as costas do governo romano. Sem querer, eles estavam cumprindo as Escrituras”.
Já era aproximadamente 7 horas da manhã quando o quarto julgamento começou. No pretório da fortaleza Antônia, o centro de comando de Pôncio Pilatos, governador romano da Palestina, outro interrogatório aconteceu. Mas Pilatos, que não encontrara motivos para executá-lO, sabendo que Jesus era galileu, encaminhou-O ao tetrarca romano Herodes Antipas, que tinha jurisdição sobre a Galiléia.
Em outras palavras, a cena poderia ser comparada a um presidente enviando a vítima para que o governador do Estado, onde o réu nascera, tomasse as devidas providências. Pilatos não queria se comprometer. Herodes deve ter ficado feliz com a consideração de Pilatos para com ele. Afinal, esta parecia ser uma atitude de reconhecimento. Entretanto, Jesus se recusa a responder qualquer pergunta de Herodes, e o tetrarca O devolve a Pilatos que, mesmo consciente da inocência de Jesus, a fim de agradar a multidão, ordena seu açoitamento seguido da crucificação, o mais infame e cruel método de tortura do mundo antigo, reservado apenas para escravos, revolucionários e aos piores criminosos. Uma pena cujo sofrimento era considerado pior do que o apedrejamento, fogueira, decapitação e estrangulamento defendidos pela lei judaica.
Foram 3 julgamentos judaicos e 3 romanos. O percurso entre os locais por onde Jesus passou desde o aprisionamento até o pretório chega a 4 quilômetros.
A CRUELDADE DO SUPLÍCIO
O açoitamento era uma pena preliminar em todas as execuções romanas. Seu instrumento de martírio era conhecido como flagrum, uma espécie de chicote com cabo de madeira e longas tiras de couro trançado em cujas extremidades eram fixados pedaços de ossos cortantes e bolas de chumbo. A finalidade da repressão era inspirar o medo público e enfraquecer o sujeito pela perda de sangue até paralisá-lo. Somente mulheres, senadores e soldados (exceto os desertores) estavam livres desse flagelo. Na frente do tribunal, era costume amarrar o acusado a um tronco e ali, totalmente despido, dois soldados de cada vez desciam o açoite, começando pelos ombros, depois nas costas, coxas e nádegas, até chegar às pernas.
Segundo o médico e escritor Truman Davis, autor do livro A Crucificação de Jesus, “os açoites primeiro atingem os tecidos subcutâneos, produzindo gotejamento de sangue dos vasos capilares. Em pouco tempo, o sangue arterial das veias dos músculos subjacentes começa a jorrar. As pequenas bolas de chumbo são responsáveis pelas profundas contusões”. Em descrições históricas sobre o suplício, como a que fez Eusébio – um historiador do século 3 – “as veias, músculos, tendões e vísceras da vítima ficam totalmente expostas”.
A lei judaica limitava os açoites em 40 chicotadas. No entanto, os fariseus fundamentalistas, que se orgulhavam de seguir à risca as regras estabelecidas, limitavam os açoites em 40 menos 1, isto é, 39, porque no caso de contarem errado, não chegariam a desobedecer a lei. Mas essa pseudobondade dos fariseus certamente não beneficiou Jesus. Os encarregados do suplício do Mestre eram soldados romanos, e na lei romana não havia limitações para o espancamento do réu. Era o centurião quem determinava o fim do martírio. Ao desamarrar a vítima, permitia-se que ela se deitasse sobre o seu próprio sangue.
Outro costume entre os romanos era o escarnecimento após o flagelo. Como o delito de Jesus havia sido intitular-se Rei, aqueles homens colocaram um manto púrpura sobre seus ombros, simbolizando realeza, e uma coroa com cerca de 70 espinhos que, ao penetrarem o couro cabeludo, provocaram intenso sangramento. Entre gargalhadas, cuspiam em seu rosto e gritavam: “Salve o Rei dos judeus”. Depois disso, Jesus, totalmente dilacerado, é exposto à multidão no pretório – o tribunal romano – e de lá percorre a via sacra rumo à crucificação.
CURIOSIDADE: JESUS MORREU AOS 33 ANOS NO ANO 30 D.C.
Se o calendário cristão começa a contar por ocasião do nascimento de Jesus, como Ele pode ter morrido no ano 30 d.C., se a Bíblia diz que Ele morreu aos 33 anos?
A contagem do tempo até meados de 525 d.C. era uma grande confusão. Existia o calendário Juliano, Gregoriano, Hebreu, Chinês, Muçulmano, entre outros. Para pôr um fim nessa desordem, em 525 d.C., o historiador grego Dionísio, calculando a data de Páscoa, toma o calendário Juliano como base e estabelece o nascimento de Jesus Cristo como sendo o primeiro ano de uma nova era. Os acontecimentos que tivessem ocorrido antes do nascimento de Jesus seriam sinalizados com a sigla a.C.
Apesar de ter sido criado em 525 d.C., somente no século 6 o calendário de Dionísio começa a ser utilizado. No séc. 10, a era cristã é oficializada pela Igreja Católica e a nova medição passou a ser difundida por todo o mundo. No entanto, em meados do séc. 19, quando o calendário já está sendo amplamente utilizado por várias nações, descobre-se que Dionísio cometeu um erro de aproximadamente 4 anos em seus cálculos. Para a historiografia moderna, não há dúvidas de que Jesus nasceu antes da contagem inicial estabelecida por Dionísio, isto é, por volta do ano 4 a.C.
VIA SACRA
O caminho entre o tribunal e o local da execução – uma região montanhosa chamada Gólgota/Calvário, localizada fora dos muros da cidade – era de, no máximo, 650 metros. Nesse percurso, Jesus, agora novamente vestido, carrega o patibulum, isto é, o tronco horizontal da cruz, uma vez que o suporte vertical costumava ficar permanentemente fixado no local.
O peso dessa trave variava entre 34 e 57 quilos – dependendo da cruz, havia vários tipos – e normalmente era colocado sobre os ombros da vítima e atado com tiras. Uma pessoa em situação física normal poderia carregar esse peso sem maiores problemas. No entanto, a debilidade física de Jesus era tão intensa que O impossibilitava de caminhar sem cair. Foram quase 50 minutos de caminhada, arrastando um pé após outro, entre tropeços e empurrões. A cada queda, a trave também caía e lhe esfolava o dorso. Como a exaustão de Cristo excedia os limites, próximo ao Calvário a guarda romana permite que uma outra pessoa O ajude a carregar.
Uma das ponderações comuns sobre a crucificação de Cristo é o questionamento: como o povo judeu pode ter mudado de opinião tão rapidamente de segunda para sexta-feira, já que na segunda reverenciavam-nO e na sexta gritavam “Crucifica-O!”? Nem ao menos os peregrinos que vieram com Jesus podiam defendê-lO?
Maier, autor de Jesus, Verdade ou Mito?, esclarece esse mal-entendido que tem sido a raiz do anti-semitismo, isto é, o ódio aos judeus no mundo. “Naquele tempo as pessoas se deitavam ao pôr do sol e acordavam ao nascer do sol. Convenhamos, Jesus é preso depois de escurecer e é submetido a julgamentos até o amanhecer. É preciso recordar que não havia noticiários noturnos ou plantões de notícia. Portanto, como poderiam saber do que se passava com o Mestre? Na verdade, eles nada souberam até que fosse muito tarde”. E, de fato, de acordo com o depoimento de Lucas, nem todo judeu queria a crucificação de Cristo. Muitos deles ficaram sabendo da execução quando o tumulto passava diante de suas casas. Mas a sentença era irrevogável. O evangelista chega a afirmar que “uma multidão de homens e mulheres judias choravam, enquanto Jesus arrastava sua cruz até o Calvário”.
Josh McDowell lembra que o Sinédrio de 71 membros “podia deixar de julgar um caso que envolvesse a pena de morte, por isso é provável que Jesus tenha sido julgado pela corte menor”
A CRUCIFICAÇÃO
Ao chegar ao local da execução, a lei judaica determinava que uma dose de vinho misturado a mirra (fel) fosse oferecida ao réu. A bebida tinha efeito levemente anestésico. Jesus chegou a molhar a boca no líquido, mas o gosto parecia ser tão ruim que Ele se recusou a tomar.
Por volta de 9 horas da manhã, isto é, à hora terceira, os preparativos para a crucificação se iniciam. Os carrascos, mais uma vez, têm a incumbência de despir Cristo, porém sua túnica está grudada às feridas. Para tirá-la, é necessário puxar violentamente, e isso lhe provoca dores intensas, já que chagas levemente cicatrizadas são novamente abertas. Vestido apenas com um manto, o Mestre é jogado ao chão, a terra penetra em seus ferimentos e o martírio da crucificação atinge o seu ápice quando os pregos lhe atravessam os pulsos e pés, transpassando nervos, tendões e ossos. Certamente, esse foi o momento de pior dor.
Segundo a Enciclopédia Bíblica Wycliffe, “restos arqueológicos de um corpo crucificado na época de Cristo e encontrado em um ossuário perto de Jerusalém indicam que os pregos utilizados nessas execuções eram longos, quadrados e tinham entre 13 e 18 centímetros”. Outro fato curioso é que os pregos não eram transpassados pelas palmas das mãos, mas através dos pulsos, porque os ligamentos e ossos desta região são mais fortes e podem segurar mais peso do que as palmas.
Os pés, geralmente, eram pregados um sobre o outro, deixando as pernas levemente recolhidas a fim de facilitar o apoio e a fixação. Logo depois, uma placa trazia o nome do réu e um letreiro em três idiomas – hebraico, latim e grego –, indicando o crime praticado pelo executado. Na de Jesus, pregada na parte superior do patibulum, estava escrito: Jesus de Nazaré, Rei dos judeus.
Segundo o estudo científico “A Morte Física de Jesus”, “embora o açoitamento tenha resultado em perda considerável de sangue, a crucificação em si era um procedimento relativamente sem sangramento, uma vez que nenhuma grande artéria era comumente atingida”. Os carrascos sabiam o local anatomicamente apropriado para deixar o indivíduo o maior tempo possível exposto ao sofrimento. A crucificação podia durar entre 3 horas e 4 dias. No entanto, quando havia interesse em antecipar a morte – como foi o caso dos ladrões que ainda estavam vivos quando Jesus morrera – quebravam-se as pernas do réu e, sem ter onde se apoiar, o indivíduo morria por asfixia.
Edwards esclarece ainda que o maior efeito patofisiológico da crucificação é a interferência na respiração, particularmente a exalação, já que o ar entra, mas sai com muita dificuldade, como um asmático nas piores crises. “O peso do corpo sobre os braços estendidos e ombros tende a pressionar os músculos intercostais num estado de inalação, impedindo a exalação. Uma exalação adequada exigiria um ato de levantamento do corpo, que poderia ser conseguido ao apoiar-se sobre o tarso dos pés. No entanto, este procedimento resulta em dores como se fossem queimaduras por todo o corpo”.
PÁSCOA - ANTES E DEPOIS DE CRISTO
Era costume entre os israelitas. No primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera, isto é, na noite do dia 14 de Nissan – o primeiro mês do calendário judaico, uma data variável no calendário cristão, entre os dias 22 de março e 25 de abril – o povo judeu comemorava a Pessach. A festa existia desde o período pré-mosaico e celebrava a entrada da primavera no hemisfério norte. Porém, com o advento da libertação do povo judeu após 430 anos de escravidão no Egito, passou a ter novo significado. Era dia de unir a família para festejar a liberdade. Agradeciam a Deus oferecendo sacrifícios e pediam a Ele perdão pelos pecados, assim como proteção sobre o lar e o rebanho.
Desde que o povo judeu, guiado por Moisés e Arão, atravessou o Mar Vermelho em direção à Terra Prometida em 1.060 a.C., em todas as residências dos israelitas, o ritual denominado Pessach – Páscoa, ou literalmente “passagem, travessia” – era reproduzido conforme as últimas ordenanças de Deus ao povo, na noite em que houve a grande libertação. Imolava-se um cordeiro, retirava-se o sangue do animal e então ungia-se os umbrais e vergas das portas, em alusão à proteção contra o anjo da morte que matou os primogênitos das famílias egípcias, a última e única praga que tocou emocionalmente Faraó, fazendo-o autorizar a partida dos escravos rumo à liberdade.
A festa era tão ou mais popular que o Natal dos dias atuais. O banquete servido ao som de música, alaridos e danças tinha mesa farta e muita carne assada.
Para o cristianismo, a morte de Jesus colocou fim à imolação de cordeiros, pois os pecados passaram a ser perdoados através do Espírito Santo, já que Jesus levou sobre si os pecados de todos. Além disso, o marco referencial entre a lei e a graça se estabeleceu.
A MORTE DE JESUS
De acordo com alguns especialistas, a causa da morte de Jesus pode ter sido multifatorial. Desidratação, arritmia por estresse induzido, perda sanguínea e enfarte estão entre os diagnósticos mais especulados. Outros, como o pesquisador Benjamin Brenner, do Centro Médico Rambam de Israel, cogitam ainda a hipótese de ter ocorrido uma embolia pulmonar.
No entanto, há quem conteste essa possibilidade. Dr. William Edward diz que é praticamente improvável que uma trombose tenha se formado num curto espaço de tempo. Para ele, “as duas causas mais lógicas são choque hipovolêmico [que tem como causa determinante a perda de sangue, plasma ou líquidos extracelulares] e asfixia por exaustão”.
Foram seis horas de sofrimento na cruz. Durante esse tempo, esforçando-se ao extremo, Jesus pronunciou apenas sete frases. A primeira delas foi dirigida aos seus executores, enquanto lançavam sortes sobre sua única vestimenta. E disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. A segunda, ao ladrão da cruz que, arrependido, pedia ao Mestre para lembrar-se dele quando entrasse no Reino. A terceira, a seu irmão João – ainda adolescente – que, juntamente com sua mãe, chorava à beira da cruz. “Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho”, disse.
A quarta, pronunciou quando parecia não mais suportar a dor: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, seguido de “Tenho sede”, quando lhe deram uma esponja umedecida em um pouco de vinho azedo, resto da bebida dos soldados. Finalmente, às 3 horas da tarde de sexta-feira, isto é, à hora nona, Jesus brada em alta voz dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E então, morre.
A pedido dos soldados, Pôncio Pilatos autorizou a crucifratura dos executados, isto é, o ato de quebrar-lhes as pernas a fim de que não pudessem exercer força para se erguerem e então respirarem. A pressa devia-se ao fato de que o pôr do sol se aproximava e logo se iniciariam as celebrações de Páscoa, período em que as execuções não eram permitidas. Mas, quando a ordem fora dada, Jesus já estava morto, por isso, somente os ladrões tiveram suas pernas fraturadas.
Para certificar-se de que Jesus realmente estava morto, um soldado chamado Longínquos desferiu um golpe de lança sobre o lado direito de seu corpo, transpassando possivelmente um dos pulmões e o coração. João afirmou que “sangue e água jorraram do ferimento”. Para a medicina moderna, a acumulação de fluidos que envolvem o coração – isto é, o pericárdio – e a membrana que cerca os pulmões, denominada pleura, pode ter sido a causa do estranho fenômeno.
Depois disso, José de Arimatéia, que também era seguidor de Jesus, pediu autorização a Pilatos para levar o corpo do Mestre. Então, juntamente com Nicodemos, banharam-nO com mirra e aloés e O sepultaram. Ao terceiro dia, Ele ressuscitou.
Não há sofrimento com tamanha repercussão que tenha sido mais aterrorizante do que as últimas horas de Cristo. Além das dores físicas e injustiças políticas, o desprezo, a humilhação e a rejeição contribuíram para que sua tristeza fosse ainda maior. Felizmente, a crucificação e a morte de Jesus não estabeleceram o fim de um grande ministério, como queriam os fariseus. Na realidade, involuntariamente, eles contribuíram para que o Messias fosse eternamente coroado, cumprindo o que havia sido predito nas Escrituras. Hoje, povos, tribos e nações O reverenciam.
A Páscoa obteve um novo significado. Para o perdão dos pecados, o sacrifício de animais e o derramamento de sangue foram abolidos. Cristo passou a simbolizar o Cordeiro. O madeiro, o altar; e o sangue vertido na cruz, a purificação dos pecados. Este marco divisor entre duas páscoas, a libertação do Egito e o perdão dos pecados pela graça existirá para todo o sempre, até que a promessa de Jesus, feita aos discípulos após a ressurreição, se cumpra. “Irei vos preparar lugar, para que onde Eu estiver, estejais vós também”.
Fonte: Texto de Oziel Alves. Revista Enfoque Gospel. Edição 80 - mar/2008.
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